sábado, 28 de fevereiro de 2009

Vertigo

... lá se vai mais uma fantasia
que parte... com uma não-parte
tangenciada pela fissura vazia.

Qual um disco de acetato
mal manuseado e escorregadio
de escutar-se horas a fio
Em rodas de pessoas de bom trato.

Vai-se embora quebrado
Mas reclamar, se na estante
já estava mal apoiado?

Fim do rompante!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Carta aberta à flor e ao coração!

And we laugh/ and we drink/ and we teach ourselves not to think/ we never did get it right/ now they've got it so low.

À pergunta: "o que se quer?" devemos responder que, talvez, esta seja a (uma das) maior(es) indagações filosóficas desde a Filosofia grega. Entretanto, porque deve o coração permanecer do lado oposto ao da flor?: esta talvez seja a indagação contemporânea por excelência.
Não importa o quanto se possa beijar a lacuna que os separa, e fazer deste ato o ato livre! Há sempre algo que nos lembra de que, existe um corpo, um corpo que tem movimento e voz. E que, no fim, toda nossa impotência, talvez seja conceber, que este corpo não se reduz à sua voz, e que sua voz não se reduz ao seu corpo.
Tempos de libertação, não são os que nos exaltam a indissociabilidade entre a flor e o coração. Mas aquele em que provaremos que esta mesma lacuna já pede em si uma síntese. E esta síntese é o risco!
E se há risco não há certeza... Só a certeza do risco!
A beleza desta mesma lacuna, é que ela é em si duas. A que faz o coração nascer da flor, e a flor do coração. A angústia é se aproximar demais daquilo que nos faz ter tanta certeza de que se tratam de duas coisas tão diferentes. E é preciso saborear, calmamente, com delicadeza, uma e outra... outra e uma, ainda que não se tenha pressa de fazer das duas uma.
Há algo de culpado... mas em ter de obedecer, ou em ter de transgredir?
E se respondermos que não se há de (necessariamente) obedecer, tanto quanto não se há de (necessariamente) transgredir?
Tanto a flor quanto o coração são insuficientes e inconsistentes. Apoiemo-nos carinhosa e delicadamente sobre os dois e façamos deste ato a responsabilidade Ética.
Desde que, se queremos sintetizar os dois, seja preciso ter muita segurança sobre o que deve florescer do quê... Qual dos termos é o campo Universal sobre o qual se planta a semente da luta? O coração, à esquerda, ou a flor, à direita?
Indo mais adiante: de que lado está a Verdade? À esquerda ou à direita?
Deixemos o corpo ser o apóstolo da Verdade.
O dilema principal seja, talvez, o fato de que não há ganho nesta Ética, uma vez que o corpo fala em nome do Outro e não de si mesmo.
Por isso a conduta Ética é um abraço tão apaixonante quanto sufocante; um olhar tão deslumbrante quanto subserviente; uma palavra tão esclarecedora quanto inexistente.
Nossa Verdade (implícita) é o Amor e ele não se traduz, já que é o entrelaçamento de línguas que em si não se pertencem... Em vez de "o que se quer?" que tal perguntar: "o que fazer?"?