quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Obama: prêmio Nobel de cinismo 2009!

Parece que a nova forma ideológica de legitimação da democracia chamada "cinismo" atingiu seu ápice com nosso querido Barack Obama.

Ao receber o prêmio nobel da paz, Obama declarou na própria cerimônia de recebimento do prêmio que a guerra no Afeganistão era necessária e que os Estados Unidos têm o papel de eliminar o "mal no mundo"... Chegando inclusive a ser aplaudido pelos republicanos que há cerca de alguns meses atrás tentavam desesperadamente aproximar a imagem de Obama de figuras da esquerda radical como Fidel Castro e até mesmo Lenin.

Cheguei a especular, em posts passados, um possível destino trágico para Barak Obama. Acho que chegou a hora de corrigir alguns prognósticos... obviamente que o fatalismo trágico em relação a Obama não é necessariamente a única opção. Obama poderia simplesmente negar (cinicamente) tudo aquilo que ele parecia representar durante as eleições.

E, além disso, considerando que o tempo da Democracia (e do fim da história) já se foram com o derretimento financeiro de 2008, que agora finalmente se escancara a relação entre democracia e totalitarismo, é perfeitamente possível que uma figura como Obama tenha pautas aberta e cinicamente reacionárias como a de seu antecessor "red neck" George Bush... Parece que enquanto Berlusconi leva uma "estatuada" na cara, seu modelo político de "exceção democrática" se espalha pelo mundo todo...

Mais uma vez repito: só nós, comunistas, podemos salvar o mínimo de democracia ainda existente no mundo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Kelsen no divã - Parte II

No último post lancei a idéia de lacanizar Kelsen para podermos pensar, em seguida, qual seriam as consequencias de dialetizar a norma fundamental em relação a sua função frente à idéia de ordenamento jurídico.

Em termos psicanalíticos, todo o aporte kantiano de Kelsen para justificar o ordenamento jurídico, sua validade, baseado num a priori jurídico racional se assemelha à lei da castração, ao pai primitivo freudiano: ela é a norma que deve ser pressuposta e, portanto, é ahistórica, não transformável, não dialetizável permanecendo sempre a mesma em qualquer época ou contexto histórico: devo pressupor que a existência da norma que funda o ordenamento jurídico em que estou inserido. E, é claro, esta norma é impossível de ser apontada, de ser vista, manuseada ou contemplada: não é material, é metafísica.

É claro que esta estaticidade da norma fundamental é condizente com a tentativa kelseniana de estabelecer os ditames científicos de uma ciência lógico-formal de funcionamento de todos os ordenamentos jurídicos existentes no mundo. A norma fundamental, neste sentido, é um pressuposto "lógico-formal-transcendente" que dá conta de explicar a "pura forma" (com o perdão da expressão) do funcionamento de um ordenamento jurídico. Ljubomir Tadic (jus-filósofo esloveno) acerta ao dizer que tal lógica formal kelseniana pode muito bem ser enquadrada na crítica que Hegel faz à lógica matemática como lógica formal, uma lógica que não diz nada sobre o conteúdo da coisa em si. Neste sentido a "teoria pura" kelseniana pode até falar a verdade (assim como faz a matemática) mas é uma verdade puramente tautológica. Sim 2+2 = 4... mas e daí? Ok, toda norma deve funcionar conforme um pressuposto de validade inquestionável... mas e daí?

O problema, portanto, não é que Kelsen "erre" ao formular sua teoria pura. Neste sentido, tenho a impressão de que muitas das críticas a Kelsen não se atém ao fato de que a Teoria Pura do Direito enquanto lógica formal jurídica não é a mesma coisa que Direito. O Direito diz respeito a um ordenamento jurídico específico que como tal é ideologia - e não estou falando isto simplesmente a partir de Marx, mas é o próprio Kelsen quem reconhece o caráter ideológico do Direito - e que portanto se funda em valores morais, políticos e sociais históricamente localizados. A "Teoria Pura do Direito" é a tentativa kelseniana de elaborar uma ciência lógica e formal de funcionamento de qualquer Direito, uma ciência pura (e neutra) que permita localizar como um "Direito" em qualquer época, em qualquer sociedade, independentemente de seu conteúdo ideológico vai funcionar.

E é claro que o que Kelsen encontra de comum em todos os ordenamentos jurídicos é o problema da validade, o problema, no final das contas, de como eu, sujeito de direitos de um ordenamento específico, sei que a norma que sigo ou deveria seguir é válida. E a solução é, obviamente, o pressuposto metafísico de que devo cumprir a norma porque devo cumprí-la.

Aqui aparece o verdadeiro problema da lógica formal kelseniana: o seu "problema" é justamente seu maior êxito: ela permite analisar indiferentemente tanto um ordenamento jurídico democraticamente eleito, quanto um regime golpista usurpador, quanto um regime revolucionário e emancipatório. A "neutralidade de kelsen" o leva a adotar uma posição neutra frente a Stalin, Hitler e qualquer liberal-democrata.

Voltando à norma fundamental como "pai primitivo" da teoria jurídica kelseniana, e se, em vez de pensarmos o pressuposto de validade de um determinado ordenamento como sendo uma norma pressuposta, metafísica, como o centro irradiador de validade incorruptível pairando acima dos ordenamentos jurídicos concretos, dialetizarmos esta norma. Em outras palavras, e se fizermos a pergunta hegeliana básica: como a norma fundamental como "a validade" olharia para si mesma? Ela não teria de lançar-se para fora de si, portanto, ela não teria de cair para fora da própria validade para olhar para si mesma?

Dialeticamente falando, o que falta na tal "norma fundamental" é justamente o antagonismo que lhe corta de dentro, o fato de que ela já contém o seu contrário, a premissa dialética fundamental. Ela empresta validade a todo o ordenamento jurídico, mas a ela própria nada empresta validade, ou até mesmo: ela se apóia numa violência fundamental (enquanto a violência possa ser entendida aqui como o oposto de validade).

Em termos lacanianos: o significante-mestre que é a lei que instaura a linguagem para o sujeito, que lhe permite falar e, portanto, articular todos os outros significantes ordinários. Ele próprio um significante como outro qualquer com a peculiaridade de que ele não tem "sentido", ele é apoiado num "não senso" fundamental. E isto porque este significante é dotado de um antagonismo que lhe corta de dentro, de uma não-coincidência consigo mesmo. Partindo deste raciocínio lacaniano, então para que devemos localizar a norma fundamental que empresta validade a um ordenamento fora do próprio ordenamento? Não é possível dizer, neste sentido, que a constituição é o significante mestre de todo o ordenamento jurídico?

Neste sentido ela empresta validade a todo o ordenamento mas, ela própria é dotada de um não-senso fundamental, ela própria não é válida e nada pode dizer que ela o é. Sendo toda constituição como lei que instaura o funcionamento de um Direito específico, uma violência fundamental.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Kelsen no divã - Parte I

Hans Kelsen em sua Teoria Pura do Direito tenta analisar o mecanismo de legitimidade/validade do ordenamento jurídico a partir de uma simples reflexão: se toda norma jurídica é válida porque uma norma superior diz que ela é válida, então haverá uma norma superior a todas as outras, a Constituição, que determina positivamente a validade de todas as outras normas. Mas então que norma diz que a Constituição é válida?

Kelsen como bom kantiano vai chegar ao artefato argumentativo da norma fundamental. Ora para que todo o ordenamento jurídico no mundo tenha validade, é necessário supor que exista uma norma sem conteúdo explícito cuja função é apenas emprestar validade a todo o ordenamento. Como o exemplo do próprio jurista alemão, é mais ou menos como se eu me perguntasse porque devo seguir as ordens de meu pai? E a resposta (para um religioso) será porque Deus ordenou que seguíssimos as ordens de nossos pais. Pois bem, e quem ordena que eu cumpra as ordens de Deus? Esta pergunta não pode ser respondida, devendo eu supor que exista um fundamento de validade para as ordens divinas.

Não é este raciocínio muito similar a noção de Pai primitivo em Freud? Afinal, a lei que determina a entrada do sujeito na cultura é, ela mesma, localizada fora da cultura, como ser pairando acima da realidade mundana. Claro que aqui podemos ir até Lacan para pensar a diferença entre masculino e feminino.

Masculina é a posição diante do Pai Primitivo, do falo ou lei da castração, da seguinte forma: se o pai é a própria lei então o pai pode tudo, não é barrado pela lei. Assim o pai persiste enquanto ser total e completo não contraditório que pode gozar plenamente sem restrições.

Feminina é a posição diametralmente oposta que parte do princípio de que se o pai é a própria lei da castração, então longe de ser ele total e completo, ele é castrado da própria lei, em outras palavras: ele é castrado da própria realidade que surge com a lei.

Daí a noção lacaniana de significante-mestre: para que haja a formação da ordem simbólica, do conjunto de significantes (símbolos ou palavras) é necessário que uma palavra ou símbolo em especial cumpra a função de simbolizar a passagem da realidade pré-simbólica para a realidade simbólica. Em outras palavras, esta palavra ou símbolo vive num paradoxo irresolúvel: ela simboliza o insimbolizável, a próprio corte que surge com a ordem simbólica.

Neste sentido não poderíamos lacanizar Kelsen para, em vez de pensar uma norma fundamental pressuposta que empresta validade ao direito, pensar a própria constituição como uma norma fundamental à la significante-mestre?

Em vez de uma norma pressuposta que seja total e completa, como a validade do ordenamento jurídico brilhando soberana acima da ordem jurídica, como um sol que irradia validade, não poderíamos pensar uma norma posta que não coincida consigo mesma, uma vez que representa o irrepresentável?

[Para uma reflexão posterior: quais seriam as conseqüências de se imaginar um Kelsen hegeliano?]

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Inconsciente, política e economia pós-modernos.

[Depois de algum tempo dedicado a escritos mais "jornalísticos"... já é hora de voltar para a filosofia.]

Uma das características mais marcantes do pensamento pós-moderno é o seu completo "desapego" à economia política. Toda análise político-econômica é prontamente descartada como reducionismo em nome do recurso argumentativo à multiplicidade e à complexidade como formas de impedir uma análise coerente da sociedade. Em termos freudianos, a economia política, para o pensamento pós-moderno, tem a estrutura de um tabu. Ninguém toca na economia política (não é por menos que mesmo os pós-modernos socialistas, como Boaventura de Souza Santos, sequer esbarram em análises político-econômicas) e quem toca vira, ele próprio, um tabu.[*]

Gostaria de enfatizar, na esteira da análise de Fernando Marcellino, a frase de Lacan "o inconsciente é político", para desdobrar como encarar a palavra político nesta frase. A intenção de Lacan, aqui, é demonstrar como uma ordem simbólica (a cultura, as normas implícitas que regulam a sociedade, a linguagem em geral) é o que "parte o sujeito em dois", que o aliena e o obriga a assumir uma posição de fora de sua própria subjetividade para aprender a falar e a agir socialmente. E portanto o sujeito como "ser falante" sempre fala em nome de um Outro, ou antes, o Outro fala através dele. Mas o que é este Outro?

Paradoxalmente a frase "o inconsciente é político" é talvez a menos enigmática das frases de Lacan. O Outro nada mais é do que a forma como uma sociedade se organiza politicamente de forma a orientar a atividade de indivíduos que façam parte dela e que tenham, portanto, de se sociabilizar a partir das normas impostas por este Outro para serem considerados indivíduos "normais". O único "retoque" que talvez pode ser feito à frase de Lacan é que, como afirma Zizek, a política precisa sempre ser suplementada pela economia política. Em outras palavras, a política e a Economia são dois pontos de vista irredutíveis, porém inseparáveis, sobre este Outro. Desta forma não só o inconsciente é político, mas o inconsciente é também econômico - como afirmou meu amigo Fernando.

Isto impõe que todo auto-questionamento e toda auto-crítica seja invariavelmente um olhar sobre o desenvolvimento político e econômico da sociedade que, hoje, como inovação histórica de nossos tempos, é invariavelmente global. Contrariamente aos postulados multiculturalistas (e desconstrucionistas), portanto, a auto-crítica nunca deve ser realizada com vistas à personalidade individual, afinal esta é apenas uma resposta, uma particularidade, da lógica Universal que regula a política e a economia. E, como não poderia deixar de ser dito, vale lembrar que este Universal não é uma totalidade fechada, estanque, idêntica a si mesma... mas um Um que se atualiza historicamente precisamente a partir de um antagonismo inerente e irreconciliável. Por exemplo, o capitalismo - ou melhor o Capital - não é uma totalidade fechada de um mecanismo com peças muito bem colocadas cuja estrutura é para sempre inalterável. Mas uma plasticidade eternamente mutável que se atualiza sempre a partir da matriz antagonística Capital-Trabalho. Assim como as sociedades modernas são sempre diferentes enquanto reproduzam, todas elas, a matriz antagonística chamada de Luta de Classes. (Relações de Produção e Forças produtivas de um lado e Luta de Classes de outro são exatamente os dois antagonismos referentes aos pólos suplementares da Economia Política e da Política, respectivamente).

O recurso argumentativo pós-moderno à multiplicidade tem o efeito de obliterar sempre este antagonismo inerente à Universalidade e por mais que doa aos pós-modernos, não consegue nunca evitar a universalidade, mas apenas mascará-la como terreno pacífico, harmônico, não antagônico. Só para dar alguns exemplos da lógica do recurso à multiplicação: os pós-modernos, por exemplo nos dizem que não existe um sujeito mas uma pluralidade infinita de personalidades multicoloridas absolutamente diferentes e singluares. É claro que um pouco de dialética nos ajudaria a entender o que se passa implicitamente neste argumento: enquanto todos são absolutamente diferentes e peculiares, todos são iguais precisamente nesta diferença absoluta. Portanto O Sujeito (Universal) aparece aqui nas entrelinhas como um simples conjunto aiôntico (para citar Deleuze), ou em outras palavras, como uma simples reunião amorfa (e pacífica!) de todas as subjetividades singulares. O pensamento metodologicamente orientado pela dialética - mais especificamente pelo materialismo dialético - ao contrário assume explicitamente o Universal como um Um que não coincide consigo mesmo, voltando ao exemplo: as milhares de subjetividades singulares e diferentes, neste caso, seriam simplesmente a resposta, a tentativa (sempre fracassada) de reconciliação de um antagonismo inerente à própria idéia de sujeito, ao próprio Sujeito Universal , para sempre cindido entre consciente e inconsciente, por exemplo. Da mesma forma as sociedades não são singularmente diferentes entre si, mas tentativas concretas de reconciliação do antagonismo inerente à própria idéia de sociedade chamado luta de classes; as múltiplas formas culturais e políticas que o Capital encontra para se "instalar" num determinado local também são respostas concretas à contradição Capital-Trabalho, etc.

Voltando ao "o inconsciente é político-econômico", como podemos ler o inconsciente pós-moderno?

É possível identificar o pós-modernismo como uma passagem do significado para o significante, em outras palavras, como a renúncia à noção de Verdade, de um significado seguro (porque real e concreto) da realidade em nome de uma certa noção de linguagem que enfatiza a produção de sentido como efeito das infinitas interações entre os múltiplos símbolos. Em outros termos o pós-modernismo se posicionaria contra o modernismo a partir da noção de que qualquer acesso a um sentido concreto ou a uma Verdade seria impossível porque o ser humano está imerso, para sempre, num oceano de linguagem e de simbologias, e a realidade (como sendo aquilo que está fora da linguagem) está para sempre envolta numa "capa de sentido" que impossibilitaria os sujeitos de saber qual é a "realidade em si mesma" ou qual é a "verdade em si". Com isso todo o sentido em vez de ser referenciado a alguma Verdade Divina, localizada fora do mundo (humano) da linguagem, seria simplesmente o efeito da interação e da inter-relação entre os milhares de símbolos e palavras que compõem nosso mundo cultural/simbólico. Com isso cada palavra ou símbolo não significa algo concreto e real, mas seu significado é produzido pela troca que ela realiza entre as outras infinitas palavras ou símbolos, gerando um efeito de sentido.

David Harvey, em seu Condição Pós-Moderna nos dá uma dica: não seria este processo um correlato da lógica exacerbada de mercado gerada com a modernidade capitalista? Vejamos: na teoria marxista o Valor da mercadoria também é um Um para sempre cindido, cindido entre valor de uso e valor de troca.

Valor de uso seria o quanto a mercadoria vale em referência à utilidade concreta que ela traz para a vida humana: uma camisa tem valor não só de mercado, mas é também útil ao homem que precisa se vestir e ao valor atribuído a esta utilidade direta de que pode desfrutar o proprietário da mercadoria se chama valor de uso.

Valor de troca seria o quanto a mercadoria vale em referência à sua circulação no mercado, ou seja, à capacidade de esta mercadoria ser trocada por outras mercadorias: a mesma camisa guarda valor não só em relação à utilidade que ela serve, mas também em relação à quantidade de produtos que posso adquirir se trocar por esta camisa, o que implica necessariamente numa diferenciação de várias camisas conforme o grau de sofisticação do produto que não necessariamente serve para alguma utilidade concreta.

Pois bem, este antagonismo do valor funciona sempre e sem equilíbrio. Mas o mercado capitalista precisa cada vez mais acentuar o valor de troca das mercadorias, o que possibilita uma tendência de aumento daquilo que Marx chamou de fetichismo da mercadoria o que implica a perda progressiva - que tende a zero mas que nunca chega a zero - do valor de uso, da utilidade concreta do produto em nome do aumento de seu valor de troca, do valor monetário inscrito em cada produto que possibilita que ele, com maior ou menor sucesso, faça as vezes de dinheiro, momentaneamente. Em termos mais abstratos: cada mercadoria tem importância pela forma como ela se liga e se interrelaciona com outras mercadorias, e não com uma utilidade natural que a liga com o lado de fora do livre mercado.

Voltemos ao trecho anterior: "Com isso cada palavra ou símbolo não significa algo concreto e real, mas seu significado é produzido pela troca que ela realiza entre as outras infinitas palavras ou símbolos, gerando um efeito de sentido". Acredito que podemos ler a mesma frase trocando algumas palavras: "Com isso cada mercadoria ou produto não tem utilidade concreta e real, mas seu valor é produzido pela troca que ela realiza entre as outras infinitas mercadorias ou produtos, gerando um efeito de valor [que podemos chamar de fetichismo da mercadoria]".

Este é um primeiro passo para pensarmos no inconsciente pós-moderno/pós-saussureano e, quem sabe, para uma economia política lacaniana.

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[*] É interessante ver como toda a cruzada pós-moderna contra as "meta-narrativas" no final das contas é uma grande meta-narrativa, com a diferença específica de ser uma meta-narrativa despreocupada com qualquer causalidade, uma meta-narrativa à la Deus ex machina: a desculpa pós-moderna para deixar de lado a economia política é o argumento de que passamos da sociedade de produção para a sociedade de consumo... mas em termos econômicos, qual foi o grande Evento dos últimos anos que teria transformado tanto o desenvolvimento do Capitalismo para que ele pudesse prescindir da exploração do trabalho (subumano)? Que teoria econômica consegue demonstrá-lo?

domingo, 13 de setembro de 2009

MP3, Comunismo e outras coisas.

Ideologicamente, vivemos em um tempo muito estranho.
A questão do Cinismo, trazida para discussão, no Brasil, em primeira mão por Vladimir Safatle, demonstra como a Democracia, hoje, pode ser sustentada (e funciona muito bem assim) sem que ninguém acredite piamente na democracia. Todos nós sabemos que a democracia não funciona, mas parecemos crer em alguém que crê na democracia de forma que não podemos pensar nenhuma realidade para além da lógica democrática.

De forma peculiar, portanto, vivemos no tempo politicamente mais conformista da história, ao mesmo tempo em que não esperamos nada do regime político e econômico vigente. E assim, a democracia e o Capital atuam livremente, percebidos como lógicas naturais etenras e imutáveis de relações sociais e humanas. Neste sentido, o Capital é pensado como uma força que atingiu a indestrutibilidade quando conseguiu atingir uma dimensão Global. Mas como diria Zizek, isto demonstra no máximo uma posição privilegiada do Capital, jamais sua indestrutibilidade eterna.

Mas, além disso, fica claro que é precisamente porque o Capital é global que seus antagonismos são elevados à última potência, deixando a ele uma posição muito mais instável. Sintomático disto é a questão da propriedade intelectual. Ora, um dos motivos da expansão global do Capital é justamente o desenvolvimento tecnológico das comunicações, mais especificamente da internet. Mas a internet como forma de circulação de mercadorias virtuais gera o problema da insustentabilidade da propriedade intelectual, uma espécie de mercadoria que não tem consistência física e que, por isso mesmo, não pode ser consumida fisicamente e só vale enquanto informação virtual que, por isso mesmo, pode ser copiada e pirateada. Nas palavras de Zizek, a propriedade intelectual é inerentemente Comunista e não é a toa que as empresas que produzem softwares e outros bens virtuais gastam muito mais dinheiro combatendo a pirataria de seus produtos do que desenvolvendo os produtos propriamente. Se o valor de toda a mercadoria oscila como num gráfico de batimento cardíaco, o valor da propriedade intelectual parece um ataque cardíaco. Neste sentido, captamos um ato falho da ultra-direita fundamentalista norte americana (Recording Industry Association of America) que revela muito dessa estrutura antagônica do Capital. Apesar da intenção conservadora, o poster revela muito de verdade.

A resistência ao Capital deve se ater nestas fraquesas, nestas inconsistências da dinâmica de mercado, e se o Capital se organiza globalmente, também a resistência tem, pela primeira vez, a capacidade de se organizar globalmente.

E, só para lembrar a frase de Zizek: Socialismo = todo o poder aos sovietes + livre acesso à internet.

domingo, 6 de setembro de 2009

Viva o presente! (Porque o futuro assusta e a liberdade dá trabalho!): 4 focos de reflexão sobre a reconfiguração geopolítica do mundo em crise.

Já que a crise estrutural se revela um fenômeno único na história do mundo já que agora o capitalismo encontra (mas insiste em não reconhecer) seus limites materiais de reprodução, pensemos nos últimos acontecimentos geopolíticos e fiquemos bem atentos quanto aos desdobramentos desta crise para os próximos anos. Podemos arriscar alguns focos de análise no mínimo férteis para o desenrolar desta perspectiva.

1 - Uma ditadura militar se instaura em Honduras depois da guerra-fria. Os paladinos da democracia, os EUA, estão absolutamente indiferentes (para dizer o mínimo) a este regime golpista ultra-conservador. Vale lembrar que Zelaya, o presidente eleito, é um liberal "crasso", nada radical que queria convocar a população para possivelmente propor uma Assembléia Constituinte que trouxesse demandas democráticas mínimas para a miserável nação hondurenha. Sua postura liberal-conformista é evidenciada com sua reação extremamente patética frente ao golpe que sofreu: chora para Hilary Clinton daqui; corre para buscar apoio de sindicatos de outros países da América Central de lá; ameaça voltar ao país mas dá dois passos de volta ao ver no horizonte os homens-gorilas fardados; agora tenta implorar para que os EUA e alguns países da Europa (todos bastante resilientes no caso) não reconheçam as novas eleições propostas por Michelleti para o fim do ano... Enfim: sua agenda política como presidente eleito e as demandas democráticas que estava, friso, pensando em propor numa possível nova Constituição, não são nada pelo que valha a pena lutar muito ou se arriscar muito... (algo aqui tem cheiro de Jango). E estes fatores revelam o quão conservador é o governo ditatorial e, consequentemente, a burguesia local que está representada em cada distintivo. De resto, a indiferença norte-americana frente a situação também demonstra que tipo de vínculo os Estados Unidos guardam, historicamente, com essas oligarquias ultra-conservadoras de Honduras e que tipo de problemas realmente importam para o grande irmão do norte.

2 - Após os Estados Unidos, preocupados com a crise e os problemas muito mais urgentes que dela decorrem, terem se posicionado indiferentemente em relação aos cães-de-guarda da reação hondurenha que latem e rosnam contra demandas, repito, minimamente democráticas, a land of the free instala bases militares na Colômbia, num momento não só de crise do capitalismo, mas também (em conseqüência) de crise hegemônica do imperialismo norte-americano. Com Evo e Chávez, a hegemonia ianque pela primeira vez em algumas décadas, se vê enfraquecida na América do Sul. Lula, no Brasil, não declarou fogo aberto à Venezuela e à Bolívia (sobretudo depois dos grunhidos da direita ultra-conservadora brasileira frente à questão da Petrobrás com a nacionalização do gás boliviano), situação esta que duvido muito que teria sido a mesma com um tucanofascista como Geraldo Alckmin ("ídolo" da comunidade carcerária paulistana, dos sobreviventes do Carandiru e do PCC) na presidência do Brasil. Parece claro que o objetivo principal das bases na Colômbia não é a Venezuela, diretamente, mas o Brasil, o foco principal dos olhares beligerantes do imperialismo na América do Sul em termos históricos. Mas, obviamente estamos falando de olhares de controle e repressão contra atitudes políticas que dancem fora do rítimo do Capital Global.

De qualquer forma, se o momento é de crise estrutural e, portanto de impossibilidade de aumentar os mercados e os benefícios da classe trabalhadora, perder mercado ou disciplina fabril na América do Sul, o terreno seguro do imperialismo, não é nada interessante. Por isso o momento da crise na situação específica da América do Sul impõe uma escolha: romper com a hegemonia norte-americana e vê-la desabar de vez ou ajudá-la a manter, a duros custos, sua posição para, quem sabe, sair ganhando alguma coisa... isso se os EUA conseguirem sair ganhando antes, é claro!

Uribe escolheu a segunda opção. E pretende ficar um pouquinho mais na presidência da Colômbia, numa atitude que qualquer articulista da Veja há uns dois anos teria chamado de "bolivariana". (e mais uma vez a história prova que só a esquerda consegue terceiros mandatos sem precisar comprar votos). Assim este é o raciocínio de Uribe: "quem sabe 'depois da crise' eu e as oligarquias colombianas possamos ascender ao lado dos EUA!". Pena! A crise é irreversível. (Não há "depois da crise")! Chávez e Evo têm escolhido a primeira opção. Aliás a mais sensata!

Lula se mantém, como um bom liberal, neutro. Mas e os oportunistas? Imaginem, mais uma vez, Alckmin no poder (Mano Brown em Diário de um Detento fala sobre "Fleury e sua gangue nadando numa piscina de sangue". Imaginem que personalidade da política brasileira atual foi um dos líderes dessa gangue!). A postura neutra do Brasil quanto à Venezuela e Bolívia não é natural, mas partidária. Neste sentido, Alckmin no poder pode significar a declaração aberta da Venezuela e da Bolívia como inimigos nacionais (e quem sabe Coronel Ubiratã como ministro da defesa). (Devo frisar que Alckmin, por ser o Berlusconi brasileiro, é mais um exemplo extremo para mostrar a que sorte a política brasileira está lançada, independentemente de ser ele ou outro tucano mais "bonzinho" que concorra à presidência ano que vem).

3 - E justamente por ser a crise irreversível que hoje emerge a possibilidade de o capitalismo chinês (chamado com muito mau gosto de "socialismo de mercado") ser o modelo perfeito de Estado capitalista para as próximas décadas da história do mundo: um enxugamento radical dos "custos desnecessários" como previdência social, educação, saúde, etc. (veja-se o fracasso do programa de reforma da Saúde Pública do nosso querido Obama), para dinamizar a produção de bens, a circulação de capital financeiro às custas de mais repressão e cada vez piores condições de vida e trabalho. (Detalhe interessante: a Ásia representa cerca de 70% da classe trabalhadora do mundo).

Dizer que o modelo econômico capitalista dos EUA está obsoleto frente ao capitalismo chinês significa a perda da hegemonia ianque já na idéia, na abstração e não num ou noutro contexto concreto e específico. Por abstração e idéia quero dizer conceito. Por contexto concreto e específico quero dizer a manifestação da crise que podemos ver num lugar específico e num tempo específico. Neste sentido o imperialismo americano não está falhando neste ou naquele lugar específico do mundo, nesta ou naquela época histórica. É a própria idéia de imperialismo americano que está em crise (mas não no sentido pós-moderno de que agora vivemos um reino de liberdade e igualdade entre os povos, e sim no sentido de que isto representa uma tendência cada vez mais agressiva dos Estados Unidos para lutar contra esta crise do imperialismo). Ou seja, as crises hegemônicas "concretas" do globo (como a da América do Sul) não são acidentes, contingências, mas uma resposta necessária à crise que já existe na própria idéia de hegemonia/imperialismo norte-americano. Em suma: é só sentar e esperar as crises hegemônicas específicas e concretas pipocarem no mundo todo.

E não é isso mesmo que vemos acontecer agora no Japão? Creio que o Japão tenha tido um raciocínio similar ao de Uribe depois da II Guerra. E funcionou porque a crise de 29, de que foi resposta o Fascismo e a Guerra em geral, era uma crise conjuntural, solucionável a partir de uma simples expansão de mercado keynesiana.

Agora, com a impossibilidade absoluta de contornar a crise pelo modelo keynesiano, o Japão não precisa mais ser o pequeno akita do imperialismo norte-americano na Ásia. E Yiukio Hatoyama (premiê eleito pelo Partido Democrata do Japão que sobe ao poder depois de 55 anos de governo do Partido Liberal Democrático) já anuncia políticas de rompimento com os Estados Unidos e uma postura menos subserviente da política internacional japonesa frente aos EUA, principalmente estando a ilha ao lado da China! E é este o sentido da nova política externa japonesa: uma tendência a romper com os Estados Unidos e fortalecer laços com a (ex rival) China. (Um analista político chinês chegou a parabenizar a postura do novo governo japonês de não mais realizar a tradicional homenagem aos soldados mortos na segunda Guerra. Aliás, a rivalidade China e Japão, ideologicamente, é bastante sustentada pela imagem fascista da participação japonesa na segunda guerra. Este ato do novo governo só pode apontar para um novo alinhamento ideológico do Japão. E a parabenização do analista chinês como um indício de sucesso nesse novo alinhamento). Em suma: a hegemonia ianque no extremo oriente já era!

4 - Pobre Obama! A cada dia cai um problema pior no seu colo vindo das mais diversas partes do mundo. Com isso crescem as ameaças de morte.

É claro que isso não é culpa do Obama, mas a história americana nos mostra o que pode ocorrer com presidentes que não conseguem dar conta do recado. É mais ou menos como aquele dito popular: "não me importa se o pato é macho, o que eu quero é o ovo!". E Obama vai ter que se virar pra conseguir o ovo, independentemente de sua impotência frente ao momento histórico em que vivemos. (Os Kennedy's, por mais diferentes que sejam os detalhes da história, não conseguiram o ovo...)

Se as coisas continuarem a se desenvolver como tem sido a tendência até agora, das duas uma: ou Obama é um liberal com Causa (colhões) e irá até o fim passando por cima do medo de levar uma pá de terra pelo rosto, ou ele é um liberal como outro qualquer (por exemplo Zelaya ou Jango) e renuncia ao mandato abrindo caminho para algum Republicano insandecido - o comediante americano Bill Maher deu a análise precisa do que anda ocorrendo com a política partidária dos Estados Unidos: "Os Democratas deram um passo em direção à direita; os Republicanos deram vários em direção ao hospício" - tomar as rédeas do amálgama imperialista sino-americano ou berlusconiano.

Como bem disse Slavoj Zizek: só nós, comunistas, podemos salvar o mínimo de democracia que o mundo conquistou até agora!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Minhas notas sobre a palestra de François Chesnais na USP (19/08/2009)

[Minhas anotações de caderno (portanto não esperem muito!) sobre a palestra de François Chesnais no III Seminário organizado pela revista Margem Esquerda, na USP, sobre a obra de István Mészáros e o pensamento sobre a Crise Estrutural do Capital.]

Mészáros previu a noção de crise estrutural e muitos conceitos que ajudaram a compreender o tempo atual.

Hoje "Para Além do Capital" [obra de Mészáros] é uma necessidade imperativa civilizacional. É uma situação em que não se pode dizer exatamente como chegar lá. "O desafio e o fardo do tempo histórico" é também outro título que caracteriza a vida atual.

Cada geração, cada sujeito politicamente consciente, deve ler Marx de várias maneiras. Quem o faz de uma só vez ou de uma só forma não entende o pensamento de Marx. Podemos ver que os Grundrisse de Marx são o fio condutor d'O Capital, mas de forma menos explícita: trata-se do movimento de autoprodução do capital que não pode ter um fim nem um limite "real". Uma pluralidade de mecanismos insaciáveis, e isto é algo decisivo a ser compreendido.

Quando vemos os indicadores econômicos mais importantes ( por exemplo as taxas de investimento em queda), vemos uma curva que desde os anos 60 é descendente, um sistema em queda tendencial: cada vez mais a queda se acentua e o sistema se torna mais agressivo. Este é o fio condutor também do trabalho de István Mészáros.

O movimento do Capital, conforme a obra de Marx, no livro III, é sem barreira e sem limite, ou antes, o limite é o Capital mesmo! O movimento limite nada mais é do que aquele em que o Capital encontra seus limites na sua própria forma de reprodução. Cada vez mais ele procura meios de ultrapassar estas barreiras para que a acumulação possa ser incrementada. Ao longo de todo o século XX esses movimentos foram cada vez mais brutais.

Penso que a crise estrutural, trabalho de Mészáros em "Para Além do Capital", é a crise que aparece nos anos 50 e se desenvolve a partir dos anos 70, mais específicamente em 75.

Mas podemos pensar a primeira Guerra como um momento histórico em que a concorrência imperialista encontra um sistema em expansão. Nos anos 30 uma nova Guerra Mundial é a nova solução possível para abrir espaço para a expansão capitalista. Neste momento a única solução para os EUA sairem da crise, sua única alternativa foi a entrada na Guerra e a expansão do mercado de armas que, desde lá, se torna estrutural para o poderio hegemônico norte-americano.

Desde 75, porém, o Capital vem lançando formas sucessivas para reinventar o Capital: Globalização da valorização do capital; reintegração da URSS e da China no mercado mundial; liberalização, flexibilização, regulamentação, etc. Foi o próprio sucesso deste mecanismo de ultrapassagem dos limites de sua reprodução que levou uma parte do capitalismo para o Capital Financeiro: um capital que tem juros e dividendos, aquele que se cristaliza na forma de títulos de dívida e de propriedade e isto nos dá uma idéia do peso decisivo que recai sobre a acumulação hoje. Com o tempo, este processo transforma o sistema fincanceiro no ponto mais delicado. Neste sistema se manifestará a crise da própria acumulação, uma vez que ele mesmo já foi uma resposta à crise de acumulação que se desdobra desde a década de 70.

Toda a crise de 2008 tomou uma proporção gigantesca, um momento inteiramente novo na história do mundo, o momento da crise da própria acumulação e expansão capitalista. Em relação ao futuro tudo o que podemos dizer é que o grau de destruição da natureza, da catástrofe ecoógica hoje é decorrente direto do grau de desenvolvimento do Capital, do seu estádio de acumulação. Ele tem hoje possibilidades de por em movimento um processo de destruição nunca antes visto, uma vez que necessita continuar ultrapassando os limites reais a sua expansão e acumulação.

Isto define a relação entre crise estrutural e o sócio-metabolismo do capital: um gerenciamento de estruturas por uma acumulação que não quer reconhecer limites. Hoje não vivemos simplesmente uma crise financeira: vivemos uma crise da expansão e da acumulação em sua totalidade, do sistema do Capital como um todo.

Falar disto no Brasil tem importância particular: devido a sua cultura e formação histórica, o Brasil nasce de uma dinâmica exploratória que pensa poder fazer o que quer com a natureza do país. Por tudo o que li nos últimos meses, o Brasil não está em recessão como a Europa. Aqui vocês caíram somente um pouquinho. Mas se entendermos a dimensão global da Crise, veremos como ela afeta o mundo todo e, assim, podemos vislumbrar a possibilidade de ação transformadora radical.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mediação Ontológica.

É incrível como pequenos acontecimentos dão uma mudada ontológica no mundo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A brief resume for the comming-pandemonium!

Aqui vai uma tradução de um dos meus posts antigos para o inglês. [Here is a translation of one of my elder posts to english].

Tose are strange times!
Hugo Chávez has published in Cubadebate website an article with a breif resume of the latest most relevant events of the latin-american politics, whose denouement was the "installing" of new US military basis in Colombia. Chavez's incisive question was "who USA and president Uribe want to cheat by saying that Colombia's military basis do not represent a threat to Venezuela?".

Some years ago this question could be read as an exagerate egotism of Chavez's. But what about now, after Honduras? What every critical thought about the gorrilla-dictatorship in Honduras has to keep in mind is that the coup d'etat was not a plot hiddenly guided by bad men thirsty for blood! Things are pretty much as they appear: Obama is a nice guy! He smoked weed (and inhaled it!) with friends in university. His intentions are really the best possible and, certainly: better him than Bush. That is not the question.

The splits of the ongoing capitalist crisis, which has been happening since the seventies, when capitalism has reached its material limits of market expansion, when it has definitively consolidated itself on the entire globe cannot occur without oppening up a great fissure in democracy, its ideology par excelence!

Zizek, for example, in a lecture about his latest book written togeather with John Milbank (The monstrosity of Christ), by the way one of the best works of revolutionary philosophy of our time, talks about the process in which the US government and the FED decided for the emission of some 'x'illions of dollars to the financial system of United States. Whoever was accompaining this process since the 15th of september of the last year remembers: the decision for the emission of this irrepresentable amount of money was, in principle, vetoed by the yankee congress. As Zizek says, the message was quite clear: "We do not have time to play this democracy game right now! It has to be done, and that's all!"

It is this and only this that we are watching in Honduras: "we do not have time to interveine in the name of democracy in a country that has only, so far, exported bananas (by the 'help' of american multinational fruit companies, of course!)! We need to save GM and Co. firs!". (As Immanuel Wallerstein has said, Honduras lies amongst the latest priorities of the White House). Of course the small detail is that the "democracy war" on Iraq is still going. Everybody new USA did not really invade Iraq for the sake of democracy, against Saddam dictatorship (that guy who was publicly executed on youtube)... But ok! This was said, nobody could effectively protest aginst the invasion, United Nations proved itself, for the despair of the most honest liberals, totally unusefull, etc.

But now we are getting much more conscious that the real thing is Capital's global circulation and expansion, really! What does it mean, therefore, to install the military basis closed (or glued!) to Venezuela, the first of the latin-american countries to adopt an openly anti-capitalist and anti-imperialist politics after the continent "redemocratization"? Now that it doesn't matter, for Capital, to legitimize itself under the flag of democracy or any other reactionary dictatorship, only Lula can believe in a mere statement of president Uribe (Colombia) which "guarantees" that the basis will not act outside Colombia's territory. (Detail: we are talking here about dozens or hundreds of fighting planes that could make it from the source of the Amazon river to the Atlantic Ocean in twenty minutes or so.)

Besides, as i have already said in one of the latest posts, american left-wing wants desperately to see Obama's death! Now that Democracy versus Totalitarianism is a false opposition even to the Capital, that is to say, it shows itself as a false option not only to the marxist-hegelians most aware of the dialetical method, but even to the economic system, "Democracy, Human Rihts, Dictatorship, Military Men in power... It doesn't matter!" What would it represent, then, the murder of Obama? Certainly, he would not be murdered merely for the caprice of "intolerant racists from Tennessee". The right-wing would never loose any opportunity to take an even worse-than-Bush texan to power. An open coup d'etat in USA...

The best that could happen is Obama's renounce of his presidency with the condition that someone much worse would took over his place. Of course, "best" for Obama: after all, this attitude would give the appearence of legitimacy to this "power transition".

Recapitulating: Democracy cannot stand still by its own legs. Military dictatorship and a resilient position by one side and war on Iraq for the sake of Democracy by the other. The installing of military basis in Colombia glued to the most significant country in terms of political resistence agains imperialism and the Capital in Latin America. The possibility of an (explicit) ULTRA-conservative coup d'etat USA... The situation indicates, definitely, not a "much too good and safe" future, especially considering that this crisis is irrevirsible (because structural) and that the emergency state proclaimed by Giorgio Agamben has ironically started to manifest itself in Italy with Mr Silvio Berlusconi a mixture of a fascist with a comedy-movie-Mafioso: an amalgam between Mussolini and Danny DeVito.

Its better for us to think about Lula's roll in all this: while Bush was pulling the strings of imperialist geo-politics, Lula used to serve as a mediator between the confederate preisdent and Hugo Chávez. Now that we have Obama (who, i repeat, is a nice guy!) it seems that Lula is doing overtime in latin-american geo-political scenary. What about thinking on seizing the power once and for all and make the aliance that has already being formed between Chávez, Morales and Correa grow?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Marina Silva para a política brasileira: um super-trunfo para o Capital Global?

Saiu hoje, na folha, várias notas sobre a saída de Marina Silva do PT. E parece que já começam a emergir agitações a respeito do que sua possível eleição, ou apenas sua candidatura, representariam para a política nacional.


Acredito que haja um certo consenso na esquerda a respeito do que a política governamental do PT representou para as lutas emancipatórias de esquerda no Brasil. Um grande amigo de Porto Alegre chegou até mesmo a levantar a hipótese de este fracasso estar vinculado às origens "trabalhistas" do PT que impossibilitariam-lhe de pensar as políticas emancipatórias que não estivessem diretamente ligadas com o trabalhismo, como as ecológicas, feministas ou, como é o caso de sua mais sincera angústia como criminólogo, da qual partilho, a questão do vagabundo, do criminoso. E que talvez, a candidatura de Marina Silva poderia ter sua importância precisamente pelo fato de ela representar a luta ecológica, vinculada a outras formas de lutas daquilo que meu amigo Moisés chamou de esquerda não-trabalhista.


Partindo de pressupostos políticos diferentes, gostaria de levantar a hipótese de que o fracasso do PT se dá pelo fato de não assumir até o fim as consequências de se declarar "trabalhista" e que, neste sentido a candidatura de Marina Silva, sua própria figura política, não representa grande avanço no momento de crise em que vivemos.


O grande problema de assumir a democracia como horizonte último das lutas políticas é justamente a impossibilidade de metaforizar as reinvindicações, de guardar no reclame político uma certa "transcendência" que revele um sentido de justiça maior, para além das coordenadas políticas vigentes e contra elas que determinam o significado real, pragmático, de justiça. Uma reinvindicação "trabalhista" como "redução das jornadas de trabalho" tem sua eficácia limitada, é claro, mas isto apenas se não lemos na mensagem um ideal de justiça maior, que reinvindique a própria forma pela qual a justiça é concebida politicamente. Caso contrário, não temos uma luta pela emancipação universal do homem, mas apenas a reinvindicação de direitos da classe trabalhadora por parte do sistema econômico e político vigente.


É claro que isto se aplica a absolutamente qualquer reinvindicação política. E não é este o principal problema das passeatas e protestos pela legalização da maconha? O que isto significa? Simplesmente a indignação de pessoas que gostariam de comprar maconha em qualquer farmácia, ou há aí um ideal de justiça implícito? Me parece que o que temos é a primeira opção, uma reinvindicação "não-metaforizada" e isto é mais fácil de perceber se perguntarmos, como criminólogos, o que seria feito com as pessoas que atualmente vivem do tráfico. O comércio da droga seria realizado por grandes empresas farmacêuticas, drogarias, etc, ou por aqueles que atualmente chamamos de traficantes? Não colocar esta discussão significa jogar mais gente (armada) na miséria absoluta, desprovidos da única forma de trabalho que lhe foi disponível até então.


A democracia, sobretudo em sua forma ocidental multiculturalista, favorece a políticas desmetaforizadas, políticas específicas ecológicas, feministas, étnicas, sexuais, etc, cada uma com uma agenda política diferente, mas que têm em comum o fato de que a democracia é a única forma de traduzir estas reinvindicações, não havendo um ponto em comum entre estas lutas que represente um ideal de justiça e política resistente à democracia e à dinâmica universal concreta do Capital Global. (Uma conseqüência deste efeito ideológico são os levantes de Paris em 2005: neste contexto, a única forma de "explodir" quando a experiência de justiça é insuportável, através de atos violentos que não reinvindicam absolutamente nada! É violência pela violência, ou, linguagem pela linguagem). Por isto a esquerda se enfraquece: o "trabalhismo" de Marx não significava apenas uma melhora para a condição dos trabalhadores tampouco significa ele um movimento político em detrimento daqueles que não estão incluídos no processo produtivo. O proletário, marxista, não é somente o operário, mas aqueles que são destituídos de suas próprias subjetividades se tornando cada vez menos sujeitos. O que temos portanto é uma metáfora para um ideal de justiça que transcenda a lógica dominante da política e da economia encontrando seu único ponto de antagonismo irreconciliável: a contradição capital-trabalho. Isto quer dizer que a contradição capital-trabalho corta todas as diferenças específicas e todas as lutas específicas. Não se confunde diretamente com elas, mas as sobredetermina. Em suma: o "trabalhismo" de Marx, não é simplesmente trabalhismo, mas Comunismo. Tudo o que o "trabalhismo" petista não é, e não será jamais.

É exatamente esta falta de Causa comum e de metaforização das reinvindicações políticas que leva Zizek a afirmar em Elogio da Intolerância que entre a direita reacionária e intolerante e o multiculturalismo liberal-democrata e tolerante, não existe diferença real. Não que ambos sejam simplesmente a mesma coisa, mas a lógica de compromisso com a ideologia é a mesma, vista de pontos diferentes. Por essa lógica compartilhada é que é possível amálgamas entre multiculturalistas e reacionários, como é o caso do polítco holndês Pim Fortuyn que como diz Zizek, era "um populista de direita cujas características pessoais e (grande parte das) opiniões eram quase todas politicamente corretas: era gay, mantinha boas relações pessoais com muitos imigrantes,um senso inato para a ironia, e assim por diante - em resumo, era um bom liberal, tolerante com relação a tudo, menos a sua atitude política básica".

E não é uma figura muito similar que temos com Marina Silva? Duas coisas me deixaram bastante intrigados com a forma como se anunciou a possibilidade de sua candidatura: em primeiro lugar, uma manchete na revista isto é, nenhum veículo de publicação muito esquerdista, falando com um certo entusiasmo na candidatura, e, hoje, um artigo da folha entitulado "Marina sai do partido e diz não ter mais ilusão". A ilusão a que se refere o título é a afirmação de Marina de que não tem mais ilusão em relação a partidos políticos, ou seja: eles não funcionam mesmo! E isto ela diz precisamente ao afirmar sua filiação ao PV. Esta não é a atitude cínica liberal caricata? Como é possível num regime partidário um político anunciar sua filiação a um novo partido ao mesmo tempo em que afirma que isto não é uma atitude sincera, de que nenhum partido, nem aquele a que se está filiando, funciona? Esta atitude não é possível somente pelo cinismo? Após esta indagação, eis que leio um artigo de Kennedy Alencar que revela a postura multiculturalista da senadora Marina Silva, ecologista fervorosa, mulher, evangélica etc, porém enfatizando a forma como esta postura multiculturalista está perfeitamente alinhada com posições conservadoras: sua posição anti-aborto, sua ligação com a igreja católica apesar de evangélica, etc. Claro que, se o modelo de conservador-multiculturalista foi Pim Fortuyn, a senadora talvez seja um pouco ou até bastante diferente. Mas no mínimo vemos a forma estranha de um multiculturalismo disposto a dialogar com as mais diversas culturas, desde que com ancoragem no conservadorismo de cada uma.

Ou seja, o que presenciamos em tempos ideológicos estranhos como os que vivemos, é uma transformação na própria forma do conservadorismo: a velha idéia de que um conservador é alguém preso a suas raízes, agarrado ao pedaço de terra em que nasceu, já é out. Hoje, o conservador é aquele que está disposto a dialogar e a transitar em diversos campos culturais, grupos políticos etc, desde que enfatize sua posição realmente conservadora: o engajamento plural da senadora Marina Silva é uma atitude neurótica obsessiva básica: engajamento, movimento, postura e pulso... para que nada mude!
Se, como já disse nos últimos posts, a tendência política a partir desta crise é um amálgama político entre democracia e totalitarismo, a senadora Marina Silva não apresenta ameaça alguma à dinâmica destrutiva do Capital Global e, de fato, não há muitas esperanças de que em termos de política democrática interna, ela realizará qualquer mudança substancial. Cada vez mais a opção de Rosa Luxembrugo, bem lembrada por István Mészáros, se faz mais clara: "Socialismo ou Barbárie". Se nem o "trabalhismo" do PT teve condições de assumir o fardo e o desafio de seu tempo histórico, que dirá a Senadora Marina Silva.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Já é hora de pensar!

Toda sociedade é um aglomerado mais ou menos complexo de indivíduos que coordenam ações e trabalho para seu desenvolvimento na história. Essa coordenação tem de ser feita a partir de um acordo, ainda que frágil ou ainda que implícito, de objetivos. E, obviamente, se estamos falando de objetivos, falamos de algo que todos, mais ou menos de comum acordo, imaginam como possibilidade concreta de realização. A esta imaginação social dos objetivos possíveis a serem alcançados, chamamos ideologia.

Marx chegou a definir a ideologia como uma ilusão que mascara a realidade. Esta afirmativa tem sentido em relação a seu tempo histórico e não é de todo equivocada. Mas Zizek, por outro lado, a partir da psicanálise, define ideologia como uma "fantasia que estrutura a realidade". Mas o que isto quer dizer?

Existe um mecanismo em funcionamento em toda a estrutura social que determina, no campo político, aquilo que é possível e aquilo que é impossível, algo que está em funcionamento no nosso imaginário, naquilo que podemos vislumbrar como possibilidade de futuro, e que determina as ações do político. Hoje, no capitalismo tardio, não necessitamos mais acreditar fielmente na democracia, mas a democracia funciona muito melhor a partir do momento em que não necessitamos afirmar nossa crença democrática explicitamente.

Por democracia, aqui, quero dizer a pura forma do Estado Democrático de Direito, ou seja, uma organização estatal pensada pela Razão histórica burguesa baseada na divisão dos poderes, na democracia representativa/eleitoral etc. e que já não guarda nenhuma semelhança com a democracia dos gregos antigos, por exemplo, e, é claro, tampouco guarda qualquer relação com uma idéia de democracia propriamente revolucionária, aquela que Vladimir Safatle define como uma Democracia verdadeiramente popular e que só guarda sentido quando podemos violar a lei e o estado em nome de algum ideal de justiça maior (que eu poderia acrescentar, com a devida licença, justiça Revolucionária).

É importante frisar que hoje o discurso de Churchil, eminentemente cínico em relação à democracia, não é uma mera contingência, não é algo que "escapou sem querer" do discurso democrático ideológico: afirmar cinicamente que "a democracia não funciona mas é o único regime possível" faz parte do próprio funcionamento da democracia hoje! A democracia funciona muito bem enquanto ninguém acredita explicitamente nela, mas, nessa mesma descrença, todos afirmam a impossibilidade de ultrapassá-la historicamente, de imaginar uma outra forma de organização do político que possa deixar para trás, como uma dentre muitas páginas da história do homem, o capitalismo!

Dessa forma, os indivíduos, hoje, agem de forma a aceitar implicitamente os limites históricos da democracia. E esta impossibilidade de pensar algo além da democracia formal (burguesa) é precisamente o que nos impede de ultrapassar a lógica do capitalismo que, se bem teve seu breve momento de florescimento (com o estado de bem-estar social que permitiu uma leve melhora qualitativa na vida dos trabalhadores, principalmente ou sobretudo na Europa) sempre funcionou na base da exploração do trabalho e, portanto, se a vida dos trabalhadores chegou a melhorar em algum momento, esta melhora necessariamente representou um enriquecimento muito mais significativo daqueles que não trabalham: os capitalistas industriais ou financeiros, pouco importa.

Hoje vivemos uma crise do capitalismo que terá necessariamente duas consequencias: em primeiro lugar a impossibilidade de qualquer melhora na vida dos trabalhadores, a partir de agora as condições do trabalho só tendem a piorar e o índice de desemprego demonstra isto; em segundo lugar o discurso democrático será paulatinamente substituído por um discurso totalitário light, com regulações estatais no âmbito do Estado Democrático de Direito para a exclusão fascista de imigrantes e marginalizados sociais (é esta tendência que a figura de Berlusconi representa).

Como então encarar as mudanças profundas que vemos acontecendo no mundo hoje em relação à possibilidade de legitimação da democracia? O que estamos vendo é a fragmentação, a ruptura do discurso democrático em Honduras, Afeganistão, Colombia e nos próprios Estados Unidos, sem falar na recalcitrante política petista que, agora, representa mais um atraso do que um terreno seguro para a emancipação do povo brasileiro e latino-americano.

Este é o momento de repensarmos a possibilidade de tomarmos as rédeas da história novamente! E isto se dará quando conseguirmos dominar a força que nos impede de ir além da democracia e do capitalismo, para pensarmos uma sociedade que tome a máxima de Marx: "a verdadeira riqueza do homem é o tempo livre!". Tudo bem, reconhecemos o avanço histórico que representou o capitalismo em relação ao mundo medieval e antigo, mas agora, no momento em que temos a possibilidade de usar a energia nuclear para abastecer o mundo com energia por mais 100 anos, enquanto esta mesma energia é, em vez disso, disperdiçada com bombas que podem destruir o planeta por 6 vezes; Enquanto vemos as jornadas de trabalho aumentarem e a paranóia da produção just-in-time se expandir ao mesmo tempo em que o desemprego aumenta (não seria melhor reduzir as horas de trabalho e empregar a todos?); enquanto vemos a possibilidade de uma catástrofe ecológica tendo plenas condições tecnológicas de reduzir o impacto da exploração predatória da natureza por parte do homem... enquanto tudo isto ocorre a maior prova que temos é que o capitalismo é um empecilho para o desenvolvimento da tecnologia, e não sua causa!

A oportunidade histórica é única: com esta crise do capital e do discurso democrático é fundamental começarmos a nos organizar em plano global para pensarmos estratégias de vitórias socialistas em todos os cantos do mundo. Não é possível que todos nós aceitemos a possibilidade de uma destruição do mundo pela dinâmica exploratória da natureza, mas não aceitemos a possibilidade (muito mais modesta, aliás) de destruição da dinâmica bestial (para citar Che) do capitalismo de do imperialismo ianque. A história é nossa, mas as vezes ela aparece como algo autônomo, estranho, independente... por isso, perder uma oportunidade pode representar mais 100 ou 200 anos de trabalho intenso, desemprego intenso, genocídios em massa, políticas fascistas e guerras nucleares.

É hora de repetir a lição de Vandré, o Lenin da MPB: "os amores na mente, as flores no chão, a certeza na frente e a História na mão!"

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Um breve resumo do pandemônio-por-vir!

São tempos estranhos!
Hugo Chávez publicou no site Cubadebate um artigo com breve resumo sobre os últimos acontecimentos mais relevantes para a política latino-americana, cujo desfecho foi a polêmica instalação das novas bases militares na Colombia. A pergunta incisiva de Chavez foi "a quem os Estados Unidos e o presidente Uribe querem enganar dizendo que as bases militares na Colômbia não representam uma ameaça à Venezuela?".

Há alguns anos a pergunta poderia ser lida como um exagerado egocentrismo de Chávez. Mas e agora, pós-Honduras? O que todo o pensamento crítico sobre a ditadura-gorila de Honduras deve ter em mente é que o golpe não foi uma "armação" guiada por baixo dos panos de homens malévolos e sedentos por sangue! As coisas são realmente como aparentam: Obama é um cara legal! Fumava maconha (e tragava!) com os amigos da universidade. Suas intenções são realmente as melhores possíveis e, de fato, melhor ele do que o Bush. A questão não é essa.

Os desdobramentos da crise estrutural do capitalismo, que vêm ocorrendo desde a década de setenta quando o capitalismo atingiu seus limites materiais de expansão de mercado, quando se consolidou definitivamente sobre todo o globo, não podem ocorrer sem deixar aberta a grande fissura da democracia, a ideologia do capitalismo por excelência!

Zizek, por exemplo, em sua palestra sobre seu último livro com John Milbank (The Monstrosity of Christ), por sinal uma das maiores obras de filosofia revolucionária do nosso tempo, comenta sobre o processo em que o governo norte-americano e o FED decidiram pela emissão de alguns porrilhões de dólares no sistema financeiro dos EUA. Quem acompanhou o processo desde o 15 de setembro do ano passado se lembra: a decisão de emissão desta quantidade irrepresentável de dinheiro foi, em princípio, vetada pelo congresso ianque. Logo em seguida, Bush, Obama e todas as figuras mais importantes da política do país se juntaram e "contornaram" a decisão do Congresso. Como Zizek afirma, a mensagem foi muito clara: "Nós não temos tempo pra brincar de democracia agora! Tem que ser feito e ponto final!".

É isto e somente isto que etamos vendo em Honduras: "nós não temos temo de intervir em nome da democracia num país que só faz exportar bananas! Precisamos salvar a GM e cia!". (como afirmou Wallerstein, Honduras está entre as últimas prioridades da Casa Branca). Claro que o pequeno detalhe é que a guerra no Iraque em nome da democracia está ocorrendo ainda. Todo mundo sabe que os EUA não invadiram o Iraque realmente em nome da democracia, contra a ditadura do Saddam (aquele que foi executado publicamente no youtube)... mas vá lá! Isto foi dito, ninguém conseguiu eficazmente protestar contra, a ONU provou, para desespero dos liberais mais honestos, que não serve pra nada, etc.

Mas agora estamos cada vez mais cientes de que o negócio é circulação e expansão do Capital mesmo! O que significam portanto as bases militares ao lado da Venezuela, o primeiro dos países latino-americanos a adotar uma postura abertamente anti-capitalista e anti-imperialista após a nossa "redemocratização"? Agora que pouco importa para o capitalismo legitimar-se sob a democracia ou sob uma ditadura reacionária qualquer, só mesmo o Lula para acreditar numa mera declaração de Uribe de garantir que as bases não agirão fora do território da Colombia. (Detalhe, estamos falando de dezenas ou centenas de caças que têm condições de ir da nascente do rio Amazonas até o oceano atlântico em vinte minutos).

Além disso, como já falei no último post, a direita americana quer ver o coro de Obama! Agora que Democracia versus Totalitarismo é uma oposição falsa até mesmo para o Capital, ou seja, ela se mostra como uma opção falsa não só para os marxistas-hegelianos mais atentos ao método dialético, mas mesmo para o o sistema econômico, "Democracia, direitos humanos, Ditadura, Militares no poder... tanto faz!". O que representaria, então, o assassinato de Obama? Com certeza ele não seria assassinado por um simples capricho de "racistas intolerantes do Tenessee". A direita não perderia jamais a oportunidade de colocar algum texano pior do que o Bush no poder. Um golpe de Estado aberto nos EUA...

Na melhor das hipóteses o Obama renunciaria ao cargo, com a condição de que alguém muito pior tomasse seu lugar. Claro que "melhor" para o Obama: afinal, tal atitude daria uma aparência de legitimidade para esta transição de poder...

Recapitulando: a Democracia não se agüenta em suas próprias pernas. Ditadura militar e postura resiliente de um lado e guerra no Iraque em nome da Democracia de outro. Instalação de bases mlitares na Colômbia ao lado do país mais significativo em termos de resistência política ao imperialismo e ao Capital na América-Latina. A possibilidade de um golpe de Estado (explícito) ULTRA-conservador nos EUA... A situação não indica, definitivamente, um futuro bom e seguro, ainda mais considerando que a crise é irreversível e que o estado de emergência previsto por Agamben, ironicamente começou a se manifestar na Itália com o Sr. Silvio Berlusconi, uma mistura de fascista com mafioso de filme de comédia: um amálgama entre Mussolini e Danny DeVito.

Acho bom pensarmos no papel do Lula: enquanto Bush puxava as cordinhas da geo-política imperialista, Lula servia como mediador entre o presidente confederado e Hugo Chávez. Agora que temos o Obama (que, repito, é um cara bacana!) parece que o Lula está fazendo hora extra no cenário geo-político latino-americano. Que tal pensarmos em tomar o poder de uma vez e crescer a aliança que já vem se formando com Evo, Chávez e Correa?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estilistas de Direita desenham o próximo paletó de Obama! (Um golpe de Estado Republicano nos EUA?)

Vimos até agora, neste blog, duas previsões, no mínimo, pretensiosas: em primeiro lugar a notícia do possível craque do sistema financeiro global, prenunciada pelo João Batista da economia política marxista, Fernando Marcellino, e outra, talvez um pouco mais modesta, da possível passagem do presidente Obama "desta para uma melhor". (E ao contrário de John F. Kennedy, a morte de Obama pode ser facilmente imputada à KKK... não é perfeito para a direita ultra-conservadora americana (republicana)?)

Durante o breve período em que tenho acompanhado as notícias sobre honduras e a impossibilidade vindoura de sustentação do discurso democrático, o que chamei de fim do fim da história ou a negação da negação dos ataques terroristas de 11 de setembro, bem como a abertura do embargo a cuba e o mais recente conflito na Ossétia do sul, mais um país da antiga URSS que vêm se debatendo pra se enquadrar na gramática política global chamada de Democracia (burguesa) o fato é que a situação de Obama está cada vez mais insustentável.

Não vamos cair aqui no discurso de que a culpa seja, na verdade, do Bush... Creio que a culpa é o daquilo que Marx previu em seu Capital, livro 3, um processo de crise estrutural do capitalismo, de perda da representação simbólica do capitalista (um Marx que leu Lacan, quem sabe?) de reconfiguração da produção do lucro, sob o domínio do capital financeiro que nega a mediação da mercadoria para a produção de "mais dinheiro" e que, ao ser comentado há cerca de 2 anos atrás, parecia papo de maluco...

Pois bem, voltando à minha previsão, qual não foi minha surpresa quando vejo a notícia divulgada na "Daily Telegraph" do Reino Unido: "Barack Obama faces 30 death threats a day, stretching US Secret Service" [Barack Obama enfrenta 30 ameaças de morte por dia, incrementando o Serviço Secreto Americano]. Segundo a notícia do tablóide britânico, as ameaças de morte, desde que Obama tomou posse, aumentaram 400 por cento em relação à média de 3000 (sim: três mil!) ameaças por ano contra o "pseudo-presidente" George W. Bush.

Para piorar a situação do Obama (mas melhorar a qualidade das minhas profecias) dentre as ameaças de morte, o Serviço Secreto americano identificou um complô de "racistas brancos do Tenessee" que planejavam matar quase cem pessoas antes de dar o tiro definitivo em Barack Obama... e assim, o golpe de Honduras poderá acontecer também nos EUA! (Quem sabe um golpe de Estado Republicano?).

Quanto tempo demora até que os Berlusconi's subam ao poder no mundo todo?

sábado, 1 de agosto de 2009

Notas sobre o craque por vir (de Fernando Marcellino)

Post retirado do blog do Fernando Marcellino, O Mundo Dentro de um Colapso Existencial.

Um comentário de Marx sobre o craque é interessantíssima. Com o desdobramento da crise financeira, “o processo se complica tanto – com a emissão de meros papagaios, ou com negócios de mercadorias destinados apenas a fabricar letras – que pode subsistir a aparência tranqüila de negócio sólido e de retornos fáceis de dinheiro, quando há muito tempo esses retornos na realidade só se fazem mediante fraude contra prestamistas ou contra produtores. Por isso, sempre às vésperas do craque, os negócios aparentam quase solidez extrema... Os negócios vão muito bem, reina a maior prosperidade, e de repente surge a catástrofe” (idem, p. 640, 641). Desde dia 17 de julho de 2009 não se iniciou esse processo que reluz a véspera do craque?

Nos dentes
segura primavera.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A bomba de Osama estourou em Obama: uma visão geral sobre a crise e o caso Honduras!

No último número da revista cult, tanto Slavoj Zizek quanto Vladimir Safatle se perguntam pelo destino da democracia nos anos que virão...

Esta crise do capitalismo é irreversível. Com isto não estamos querendo dizer que o capitalismo vai emperrar e ruir, de repente, de uma hora pra outra nos próximos anos... mas temos que ter em mente que: Sim! O capitalismo vai continuar se nada for feito. Mas, ao mesmo tempo, não será possível prever a custa do que o capital atenderá seus imperativos existnciais de acumulação e expansão. Não é esta a principal pataquada do pensamento neo-keynesiano? Claro que a alternativa keynesiana "funcionou" nos tempos que seguiram à crise de 29... Mas o que é claro para qualquer liberal-tolerante mais ou menos honesto, é que a recuperação subsequente permitiu ao capitalismo se expandir geo-politicamente, atingindo áreas em que o capitalismo ainda não havia chegado e permitindo assim a criação de novos mercados. Hoje, faremos o que? Conquistar mercados na lua ou em marte (diga-se de passagem, este era o imaginário ideológico-hollywoodiano dos anos 60!)? E considerando que a dinâmica do capitalismo é pulsional, circulando em torno de si mesma, sem objetivos, Capitalismo só existe enquanto acumulação para expansão, expansão para mais acumulação, e assim por diante!

A partir de agora, o capitalismo propulsiona sua dinâmica destrutiva: tudo o que não for valor direto, tudo o que for antivalor é excluído. Acabou: educação, saúde, previdência social, direitos trabalhistas... algo vai mudar drasticamente neste campo (e em todo o mundo) entre os anos de 2010 e 2020... isto se não contarmos com a previsão de Fernando Marcellino sobre a completa derrocada do sistema financeiro mundial em setembro deste ano (daqui dois meses).

Daí a discussão de Zizek e Safatle: qual o modelo de maior crescimento econômico no mundo contemporâneo? Não seria o Estado Chinês? O Estado do Capital perfeito: o Estado só funciona para incentivar a produção de mercadorias de um lado e descer o sarrafo nos trabalhadores de outro, sem a menor interferência da democracia e dos democratas sensíveis!

É com esta reflexão que devemos olhar para o caso Honduras. E o fato de Honduras representar um papel muito modesto frente à dinâmica do capital global, ao contrário, só deve nos alertar para a monstruosidade do problema.

O Evento em que um presidente liberal-democrata (não um comunista radical) resolve realizar mudanças mínimas na constituição do país que garantisse maiores direitos democráticos aos seus cidadãos e uma aliança bastante modesta com a Venezuela e Chávez, para conseguir petróleo mais barato e contrabalancear o poder que os Estados Unidos exercem sobre a região desde os tempos em que Honduras era literalmente uma república das bananas (Todas as grandes empresas de plantio e colheita de bananas em honduras durante o fim do século XIX e início do século XX eram norte-americanas, sem falar na repressão à greve geral dos trabalhadores destas empresas que foi reprimida não pela polícia hondurenha mas sim pela marinha norte-americana) sobretudo quando estamos diante do primeiro golpe militar na américa latina desde o fim da guerra fria deixa claro o problema: a democracia (assim como o capitalismo) pela primeira vez se defronta com ela mesma! Ela é insustentável não por culpa do SOREX (socialismo realmente existente), Krushev, Stalin, Fidel, Cháves ou qualquer personificação do inimigo externo que perturba a ordem harmônica do bom senso capitalista e democrata: a democracia é um empecilho para o capitalismo a partir de agora!

E neste sentido parece que a bomba de Osama estourou em Obama!... o que fica claro da postura norte-americana, ainda que Bush e Obama tenham programas políticos levemente diferentes (acho que a maior diferença não é em termos de programas políticos, mas de inteligência mesmo!), é a inconsistência em relação ao discurso proclamado aos quatro cantos do mundo de que a invasão do iraque foi em nome da democracia (como instituição supra-capitalismo, acima das questões mundanas do mundo econômico) e a atual postura arredia dos Estados Unidos frente à Ditadura Gorila de Honduras! Como disse Immanuel Wallerstein em artigo à folha: o problema de Honduras está nas últimas posições das prioridades de Obama e da política nacional e internacional norte-americana! Ou: com a crise hoje, a Democracia está nos últimos lugares da lista de prioridades do Imperialismo Norte-Americano! Zelaya passeia de um canto a outro do mundo, conversa com Hillary Clinton, conversa com sindicalistas da américa central, pede por mais pressão política contra o governo golpista de Micheletti, compra um jipe para voltar ao poder dirigindo... e nada!

Obama provou ao mundo que é impossível ser liberal-democrata hoje! E Zizek tem razão quando afirma: só a esquerda radical, somente nós comunistas, podemos salvar o mínimo de democracia que temos hoje! Não me espantaria que Obama não aguentasse a pressão e saísse de cena até o fim de 2010! Claro que me refiro não ao caso de Honduras isoladamente, mas a série de problemas com os quais Barack Obama se defrontou nestes poucos meses de governo, a crescente insatisfação do povo norte-americano com suas políticas, a incapacidade de ser liberal e democrata como um todo!

Seguindo o prognóstico Zizekiano de que em breve veremos Berlusconi's no poder em todos os países do mundo ocidental, em Honduras ela já começou a se concretizar - só que um Berlusconi latino-americano teria que vestir uma farda!

O que vemos nestes eventos é nada mais nada menos que o fim do fim da história. Se os eventos de 11 de setembro demonstraram que a democracia, após suas 2 décadas de livre desenvolvimento pós-moderno, não era a fórmula definitiva, é agora com a crise, e com a pressão que um evento político tão insignificante para o capitalismo global, mas tão significante para a manutenção do discurso legitimador liberal-democrata, agora podemos ler o desfecho, a negação da negação dos atentados talibãs!

domingo, 12 de julho de 2009

O que significa ser um revolucionário hoje?

Aqui, somos mais uma vez presenteados pelo maior filósofo vivo do mundo, Slavoj Zizek, com mais um tema crucial para os debates contemporâneos da esquerda.

O que significa ser um revolucionário hoje? (Palestra com Slavoj Zizek)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nossa "Democracia" latino-americana.

Segundo a tese de Meszáros, o imperialismo hoje se dá na forma da estratégia política e militar dos Estados Unidos que cumprem em si a função de Estado do Capital transnacional, estabelecendo militarmente as condições de desenvolvimento e expansão do capital multinacional nos diversos países que não se adequem aos imperativos existenciais do capitalismo global.

Claro que este argumento, por si só, derruba todo o sonho liberal-democrata de uma instituição supra-nacional que consiga apaziguar e pacificar os conflitos inter-estatais que decorrem dessa dinâmica contraditória do capitalismo. Não é por menos que os Estados Unidos não titubearam em passar por cima de todos os conselhos da ONU em relação à invasão do Iraque em nome da "Democracia", donde, mais uma vez, fica claro que "Democracia" e "Totalitarismo" são dois lados de uma mesma moeda.

Mas agora, nossa direita latino-americana, aquela que tem fetiche por homens de farda, resolveu se dar o Direito de também passar por cima das recomendações da ONU. O Site da Fundação Lauro Campos tem mais informações a respeito dos recentes episódios em Honduras.

Mas parece a primeira vez em muito tempo que uma ditadura militar de direita tão escancaradamente se impõe sob a américa latina, um verdadeiro Golpe de Estado (não uma revolução, como no Evento cubano).

Apesar das inúmeras manifestações do povo de Honduras para que o presidente eleito democraticamente, o Sr. Manuel Zelaya retorne ao poder, o exército vêm reprimindo violentamente o povo hondurenho além de, na manhã de 5 de julho, ontem, ter bloqueado a pista do Aeroporto internacional de Honduras para impedir a aterrisagem do presidente Zelaya.

Corbisier nos escreveu certa vez que a Revolução dos Cravos em Portugal nos provou que é possível ser militar sem ser fascista. O que será necessário para manter esta afirmação viva hoje? Parece que de tempos em tempos nossa querida América Latina e sua democracia são tomada por gorilas fardados e enquanto isso, os liberais "mais sóbrios" continuam a exigir mais democracia e regulação e defendem os direitos humanos como remédio para estes arroubos totalitários... Como se não houvesse a menor causalidade histórica entre a dinâmica de expansão absolutamente necessária para a manutenção do capitalismo, e as ditaduras militares de direita que de tempos em tempos brotam dos bueiros latino-americanos.

Para dar uma última palavra: lembro-me da piada do sujeito que vai ao Canadá para caçar ursos. Num ano ele vai, mata um urso e um outro urso maior ainda o "enraba". No outro ano, movido por desejo de vingança, o sujeito encontra o urso pederasta e o mata. Logo em seguida, um amigo do urso aparece e obriga o sujeito a repetir o ato do ano passado. E assim durante alguns anos... até que um dia um Urso, maior de todos, pergunta-lhe:

- Fala sério... Você não vem aqui pra caçar ursos mesmo, né?

Em relação ao fetiche por homens de farda, não podemos dizer o mesmo dos liberais sóbrios que protestam contra os reitarados golpes militares fascistóides da América Latina com pedidos de regulação, mais democracia e mais Direitos Humanos? Eles não estão aqui para defender os Direitos Humanos mesmo, né?

sábado, 4 de julho de 2009

Trabalho sobre hegelianismo e a esquerda.

Acabei de concluir o esqueleto do meu artigo sobre hegelianismo e esquerda hoje, fruto das questões que vinha postando (e possivelmente ainda postarei) aqui no blog. Já que ainda há muito trabalho pela frente, deixo aqui disponível o meu email para que os que tenham interesse possam me escrever, pedindo o artigo, para me responder com as devidas críticas e sugestões:

chrysantho@gmail.com

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Porque Democracia é Ditadura?

Em vista de algumas críticas construtivas que recebi em relação aos últimos posts, resolvi abrir um pouco mais a idéia de que Democracia é Ditadura. Peço inclusive que quem tiver alguma dúvida em relação aos meus textos, façam perguntas...

É claro que "Democracia é Ditadura" não significa que não há absolutamente nenhuma diferença entre o governo Lula, por exemplo, e o governo militar que os Gorilas e cães de guarda da reação implantaram no Brasil de 64 a 85. Sim, há diferenças.

O ponto do raciocínio hegeliano seria, antes, o seguinte: se o entendimento é poder de limitação e de fixação, dando independência e identidade a termos opostos e a razão, por outro lado, é a identidade da contradição, a identificação de que um termo é a verdade do outro, o que temos é uma forma de encarar o movimento, o desenvolvimento de um certo conceito.

Identidade e independência de termos opostos, neste sentido, significa que termos como Democracia de um lado, e Totalitarismo ou Ditadura de outro, são postos como coisas diferentes (e de fato o são, em princípio, sempre!) mas além de diferentes, Independentes entre si: Democracia, assim, poderia existir independentemente de totalitarismo e vice-versa, como termos opostos.

Que significa, então, dizer que Democracia é Ditadura se, como acabei de afirmar, são duas coisas diferentes sempre?

A primeira coisa a perceber é que, quando digo "A verdade da democracia é a ditadura", a palavra verdade tem de ser compreendida de forma um pouco diferente da noção mais comum do termo: não é possível opor Democracia e Ditadura como simples "mentira e verdade", ou seja, não é que, no fundo, todo regime democrático é uma máscara para uma conspiração obscura que tenta desenrolar a estrutura específica do Estado de forma ditatorial, por debaixo dos panos, sem que nós, cidadãos comuns, percebamos este processo.

A diferença é, isso sim, aquela entre pensar (relacionada à razão) e entender (relacionado obviamente ao Entendimento). Neste sentido é que podemos interpretar o polêmico artigo de Roland Corbisier, chamado Por que a direita não pensa?: como o próprio Corbisier afirma, não significa que todos os liberais e conservadores sejam simplesmente burros. Mas, se pensar é apreender a realidade no pensamento, e se, para Hegel, não é só o método que é dialético e, portanto, contraditório, mas também a realidade, o mundo natural e histórico, que são também e principalmente dialéticos e contraditórios, logo: pensar é apreender no pensamento a contradição inerente à realidade, entendida aqui como o objeto sobre o qual se debruça para conhecer.

Neste sentido temos duas formas de nos debruçar sobre a democracia: pelo Entendimento de forma que não conseguiremos entender o que, na Democracia, é sua contradição inerente; ou pela Razão quando conseguimos entender que a Democracia possui um termo oposto a ela e que, quando aparecem um de frente para o outro, os dois são pegos num movimento de auto-propulsão que possibilita o desenvolvimento da Democracia, de um lado (sua "sofisticaria" como diria Hegel, isto é, a complexificação de suas instituições, de sua idéia, de seu conceito) e da sua oposição, do outro, que também retornará, sempre, como uma espécie de "retorno do recalcado", que possibilitará (e esta será sua única função) o desenvolvimento do Conceito de Democracia.

Neste sentido, optar por Democracia ou por Ditadura é, necessariamente, uma opção falsa: estamos diante de dois termos que não são independentes, que necessitam um do outro para se desenvolver como conceito e, é claro, como realidade concreta.

No caso da USP: sim, é claro que a intervenção policial na USP não significa que há uma manipulação, por detrás da máscara democrática, e que, quiçá, os Militares estão no poder até hoje, sem que percebamos, escolhendo, movendo as cordinhas da nossa realidade política, definindo de antemão quem ganhará ou perderá as eleições etc etc. Seria paranóia demais.

Mas a Democracia se desenvolverá a partir deste excesso totalitário que surgiu no evento trágico da USP: qualquer que seja a solução dada, dentro dos limites do Entendimento Político Democrático (pensemos em alguma lei para punir policiais sem identificação ou uma outra lei/decreto etc que regule mais especificamente a entrada de policiais nas Universidades) darão um salto dentro dos limites do desenvolvimento democrático apenas para que, num outro momento, sabe-se lá quando ou onde, outro excesso totalitário reapareça, com a função de que a Democracia se desenvolva, ou seja, se movimente. Porque, afinal, dialética é movimento e movimento é contradição (estar e não-estar ao mesmo tempo; ser e não-ser ao mesmo tempo; etc).

Neste sentido, dizer Democracia é Ditadura é simplesmente capturar, pelo pensamento, a contradição aparentemente independente da democracia, seu Outro, para perceber como este Outro não é simplesmente algo que surge, simplesmente, do nada, de uma inconsistência específica da Democracia e que pode ser sanada por ela: a exceção é o que sustenta a idéia, no sentido de que seu aparecimento é funcional na medida em que é este confronto do Conceito com seu Excesso, seu Outro, que dispara o gatilho do movimento de auto-propulsão do conceito.Justificar

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Democracia é Ditadura

Um exemplo claro de como a verdade da Democracia é a Ditadura, pode ser encontrado nos últimos acontecimentos na USP que têm sido pouco divulgados pela mídia e, quando o são, o ar de "neutralidade" perpassa todas as reportagens. De forma nojenta eu diria.

Uma das poucas reportagens que vi, e não na televisão, por sinal, mas no youtube, mostra uma jornalista afirmando "Segundo os estudantes..." [corte para um estudante contando que a política teria entrado violentamente para reprimir as manifestações]; "já segundo os policiais" [corte para um sargento da PM afirmando que a PM estava lá "pacificamente" e que foram os estudantes que começaram com as agressões de forma que a Política Militar de São Paulo teve que se defender].

Mas Polícia, como coorporação, se defende de alguma coisa? Tudo bem: o policial, o sujeito, o homem que veste uma farda e ganha a vida como policial, este se defende. Mas a coorporação se defende de alguma coisa? Quer dizer que a Polícia Militar de São Paulo estava passando pelo campus da USP, como quem não quer nada, visitando a Universidade, quando começaram a sofrer bulling dos estudantes malvados?

Ainda que o argumento de neutralidade da jornalista tenha sido lançado de boa fé, a prova cabal de que os policiais NÃO ESTÃO NA USP COM BOAS INTENÇÕES está no fato de estarem quase todos sem identificação nas fardas [Inclusive, o que é muito mais grave, os oficiais]!!!! Isto demonstra que os policiais estão ali para fazerem algo de errado. ESTA É A ORDEM QUE RECEBERAM, e não um acidente de percurso que pode ocorrer. Quem quer que tenha ordenado a invasão do campus da USP deu ordens para que se executassem atos ilegais.







objeto repressor não identificado

Todas as ações da PM de São Paulo ali são ações proto-fascistas desde a origem, desde a ordem que recebeu o batalhão. Por isso, essas imagens a seguir não são meros acidentes de percurso, eventualidades que surgiram do confronto com estudantes insandescidos. A PM de São Paulo está lá para isto mesmo!

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... e o meganha sai atirando contra o corredor do crusp

. entrincheirados na Reitoria. O comandante aponta...

... dessa vez muito pior...

foram atiradas bombas dentro do prédio da Geografia/
foram atiradas bombas dentro do prédio da Geografia/

menina sai carregada rumo ao HU após passar mal com o gás lacrimogênio

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O Ataque ao carro de som do sindicato dos Professores da USP, foco principal das "ações" da PM:

ataque ao caminhão de som do Sintusp
ataque ao caminhão de som do Sintusp

ataque ao caminhão de som do Sintusp
ataque ao caminhão de som do Sintusp

ataque ao caminhão de som do Sintusp
ataque ao caminhão de som do Sintus.


Acho que estas imagens deixaram um pouco mais claro o que meus estudos sobre hegelianismo quiseram dizer com DEMOCRACIA É DITADURA!

Todas as imagens estão divulgadas em

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448626.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448641.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/06/448656.shtml