quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Minhas notas sobre a palestra de François Chesnais na USP (19/08/2009)

[Minhas anotações de caderno (portanto não esperem muito!) sobre a palestra de François Chesnais no III Seminário organizado pela revista Margem Esquerda, na USP, sobre a obra de István Mészáros e o pensamento sobre a Crise Estrutural do Capital.]

Mészáros previu a noção de crise estrutural e muitos conceitos que ajudaram a compreender o tempo atual.

Hoje "Para Além do Capital" [obra de Mészáros] é uma necessidade imperativa civilizacional. É uma situação em que não se pode dizer exatamente como chegar lá. "O desafio e o fardo do tempo histórico" é também outro título que caracteriza a vida atual.

Cada geração, cada sujeito politicamente consciente, deve ler Marx de várias maneiras. Quem o faz de uma só vez ou de uma só forma não entende o pensamento de Marx. Podemos ver que os Grundrisse de Marx são o fio condutor d'O Capital, mas de forma menos explícita: trata-se do movimento de autoprodução do capital que não pode ter um fim nem um limite "real". Uma pluralidade de mecanismos insaciáveis, e isto é algo decisivo a ser compreendido.

Quando vemos os indicadores econômicos mais importantes ( por exemplo as taxas de investimento em queda), vemos uma curva que desde os anos 60 é descendente, um sistema em queda tendencial: cada vez mais a queda se acentua e o sistema se torna mais agressivo. Este é o fio condutor também do trabalho de István Mészáros.

O movimento do Capital, conforme a obra de Marx, no livro III, é sem barreira e sem limite, ou antes, o limite é o Capital mesmo! O movimento limite nada mais é do que aquele em que o Capital encontra seus limites na sua própria forma de reprodução. Cada vez mais ele procura meios de ultrapassar estas barreiras para que a acumulação possa ser incrementada. Ao longo de todo o século XX esses movimentos foram cada vez mais brutais.

Penso que a crise estrutural, trabalho de Mészáros em "Para Além do Capital", é a crise que aparece nos anos 50 e se desenvolve a partir dos anos 70, mais específicamente em 75.

Mas podemos pensar a primeira Guerra como um momento histórico em que a concorrência imperialista encontra um sistema em expansão. Nos anos 30 uma nova Guerra Mundial é a nova solução possível para abrir espaço para a expansão capitalista. Neste momento a única solução para os EUA sairem da crise, sua única alternativa foi a entrada na Guerra e a expansão do mercado de armas que, desde lá, se torna estrutural para o poderio hegemônico norte-americano.

Desde 75, porém, o Capital vem lançando formas sucessivas para reinventar o Capital: Globalização da valorização do capital; reintegração da URSS e da China no mercado mundial; liberalização, flexibilização, regulamentação, etc. Foi o próprio sucesso deste mecanismo de ultrapassagem dos limites de sua reprodução que levou uma parte do capitalismo para o Capital Financeiro: um capital que tem juros e dividendos, aquele que se cristaliza na forma de títulos de dívida e de propriedade e isto nos dá uma idéia do peso decisivo que recai sobre a acumulação hoje. Com o tempo, este processo transforma o sistema fincanceiro no ponto mais delicado. Neste sistema se manifestará a crise da própria acumulação, uma vez que ele mesmo já foi uma resposta à crise de acumulação que se desdobra desde a década de 70.

Toda a crise de 2008 tomou uma proporção gigantesca, um momento inteiramente novo na história do mundo, o momento da crise da própria acumulação e expansão capitalista. Em relação ao futuro tudo o que podemos dizer é que o grau de destruição da natureza, da catástrofe ecoógica hoje é decorrente direto do grau de desenvolvimento do Capital, do seu estádio de acumulação. Ele tem hoje possibilidades de por em movimento um processo de destruição nunca antes visto, uma vez que necessita continuar ultrapassando os limites reais a sua expansão e acumulação.

Isto define a relação entre crise estrutural e o sócio-metabolismo do capital: um gerenciamento de estruturas por uma acumulação que não quer reconhecer limites. Hoje não vivemos simplesmente uma crise financeira: vivemos uma crise da expansão e da acumulação em sua totalidade, do sistema do Capital como um todo.

Falar disto no Brasil tem importância particular: devido a sua cultura e formação histórica, o Brasil nasce de uma dinâmica exploratória que pensa poder fazer o que quer com a natureza do país. Por tudo o que li nos últimos meses, o Brasil não está em recessão como a Europa. Aqui vocês caíram somente um pouquinho. Mas se entendermos a dimensão global da Crise, veremos como ela afeta o mundo todo e, assim, podemos vislumbrar a possibilidade de ação transformadora radical.

2 comentários:

Fernando Marcellino disse...

excelente palestra.

Mi casa su casa disse...

François :O
uaullll cara.
show de bola deve ter aprendido mto...
adorei.