São tempos estranhos!
Hugo Chávez publicou no site Cubadebate um artigo com breve resumo sobre os últimos acontecimentos mais relevantes para a política latino-americana, cujo desfecho foi a polêmica instalação das novas bases militares na Colombia. A pergunta incisiva de Chavez foi "a quem os Estados Unidos e o presidente Uribe querem enganar dizendo que as bases militares na Colômbia não representam uma ameaça à Venezuela?".
Há alguns anos a pergunta poderia ser lida como um exagerado egocentrismo de Chávez. Mas e agora, pós-Honduras? O que todo o pensamento crítico sobre a ditadura-gorila de Honduras deve ter em mente é que o golpe não foi uma "armação" guiada por baixo dos panos de homens malévolos e sedentos por sangue! As coisas são realmente como aparentam: Obama é um cara legal! Fumava maconha (e tragava!) com os amigos da universidade. Suas intenções são realmente as melhores possíveis e, de fato, melhor ele do que o Bush. A questão não é essa.
Os desdobramentos da crise estrutural do capitalismo, que vêm ocorrendo desde a década de setenta quando o capitalismo atingiu seus limites materiais de expansão de mercado, quando se consolidou definitivamente sobre todo o globo, não podem ocorrer sem deixar aberta a grande fissura da democracia, a ideologia do capitalismo por excelência!
Zizek, por exemplo, em sua palestra sobre seu último livro com John Milbank (The Monstrosity of Christ), por sinal uma das maiores obras de filosofia revolucionária do nosso tempo, comenta sobre o processo em que o governo norte-americano e o FED decidiram pela emissão de alguns porrilhões de dólares no sistema financeiro dos EUA. Quem acompanhou o processo desde o 15 de setembro do ano passado se lembra: a decisão de emissão desta quantidade irrepresentável de dinheiro foi, em princípio, vetada pelo congresso ianque. Logo em seguida, Bush, Obama e todas as figuras mais importantes da política do país se juntaram e "contornaram" a decisão do Congresso. Como Zizek afirma, a mensagem foi muito clara: "Nós não temos tempo pra brincar de democracia agora! Tem que ser feito e ponto final!".
É isto e somente isto que etamos vendo em Honduras: "nós não temos temo de intervir em nome da democracia num país que só faz exportar bananas! Precisamos salvar a GM e cia!". (como afirmou Wallerstein, Honduras está entre as últimas prioridades da Casa Branca). Claro que o pequeno detalhe é que a guerra no Iraque em nome da democracia está ocorrendo ainda. Todo mundo sabe que os EUA não invadiram o Iraque realmente em nome da democracia, contra a ditadura do Saddam (aquele que foi executado publicamente no youtube)... mas vá lá! Isto foi dito, ninguém conseguiu eficazmente protestar contra, a ONU provou, para desespero dos liberais mais honestos, que não serve pra nada, etc.
Mas agora estamos cada vez mais cientes de que o negócio é circulação e expansão do Capital mesmo! O que significam portanto as bases militares ao lado da Venezuela, o primeiro dos países latino-americanos a adotar uma postura abertamente anti-capitalista e anti-imperialista após a nossa "redemocratização"? Agora que pouco importa para o capitalismo legitimar-se sob a democracia ou sob uma ditadura reacionária qualquer, só mesmo o Lula para acreditar numa mera declaração de Uribe de garantir que as bases não agirão fora do território da Colombia. (Detalhe, estamos falando de dezenas ou centenas de caças que têm condições de ir da nascente do rio Amazonas até o oceano atlântico em vinte minutos).
Além disso, como já falei no último post, a direita americana quer ver o coro de Obama! Agora que Democracia versus Totalitarismo é uma oposição falsa até mesmo para o Capital, ou seja, ela se mostra como uma opção falsa não só para os marxistas-hegelianos mais atentos ao método dialético, mas mesmo para o o sistema econômico, "Democracia, direitos humanos, Ditadura, Militares no poder... tanto faz!". O que representaria, então, o assassinato de Obama? Com certeza ele não seria assassinado por um simples capricho de "racistas intolerantes do Tenessee". A direita não perderia jamais a oportunidade de colocar algum texano pior do que o Bush no poder. Um golpe de Estado aberto nos EUA...
Na melhor das hipóteses o Obama renunciaria ao cargo, com a condição de que alguém muito pior tomasse seu lugar. Claro que "melhor" para o Obama: afinal, tal atitude daria uma aparência de legitimidade para esta transição de poder...
Recapitulando: a Democracia não se agüenta em suas próprias pernas. Ditadura militar e postura resiliente de um lado e guerra no Iraque em nome da Democracia de outro. Instalação de bases mlitares na Colômbia ao lado do país mais significativo em termos de resistência política ao imperialismo e ao Capital na América-Latina. A possibilidade de um golpe de Estado (explícito) ULTRA-conservador nos EUA... A situação não indica, definitivamente, um futuro bom e seguro, ainda mais considerando que a crise é irreversível e que o estado de emergência previsto por Agamben, ironicamente começou a se manifestar na Itália com o Sr. Silvio Berlusconi, uma mistura de fascista com mafioso de filme de comédia: um amálgama entre Mussolini e Danny DeVito.
Acho bom pensarmos no papel do Lula: enquanto Bush puxava as cordinhas da geo-política imperialista, Lula servia como mediador entre o presidente confederado e Hugo Chávez. Agora que temos o Obama (que, repito, é um cara bacana!) parece que o Lula está fazendo hora extra no cenário geo-político latino-americano. Que tal pensarmos em tomar o poder de uma vez e crescer a aliança que já vem se formando com Evo, Chávez e Correa?
2 comentários:
Que excelente post! Faça o favor de epxndir a leitura de seu blog que está caindo, como vi no site x que fala sobre essas coisas. Como repensar, portanto, a funcionalidades da democracia para o capitalismo hoje?
Muito obrigado pelo comentário no Sarapalha. Excelente a sua página! Vou estar sempre por aqui. Um abraço.
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