segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nossa "Democracia" latino-americana.

Segundo a tese de Meszáros, o imperialismo hoje se dá na forma da estratégia política e militar dos Estados Unidos que cumprem em si a função de Estado do Capital transnacional, estabelecendo militarmente as condições de desenvolvimento e expansão do capital multinacional nos diversos países que não se adequem aos imperativos existenciais do capitalismo global.

Claro que este argumento, por si só, derruba todo o sonho liberal-democrata de uma instituição supra-nacional que consiga apaziguar e pacificar os conflitos inter-estatais que decorrem dessa dinâmica contraditória do capitalismo. Não é por menos que os Estados Unidos não titubearam em passar por cima de todos os conselhos da ONU em relação à invasão do Iraque em nome da "Democracia", donde, mais uma vez, fica claro que "Democracia" e "Totalitarismo" são dois lados de uma mesma moeda.

Mas agora, nossa direita latino-americana, aquela que tem fetiche por homens de farda, resolveu se dar o Direito de também passar por cima das recomendações da ONU. O Site da Fundação Lauro Campos tem mais informações a respeito dos recentes episódios em Honduras.

Mas parece a primeira vez em muito tempo que uma ditadura militar de direita tão escancaradamente se impõe sob a américa latina, um verdadeiro Golpe de Estado (não uma revolução, como no Evento cubano).

Apesar das inúmeras manifestações do povo de Honduras para que o presidente eleito democraticamente, o Sr. Manuel Zelaya retorne ao poder, o exército vêm reprimindo violentamente o povo hondurenho além de, na manhã de 5 de julho, ontem, ter bloqueado a pista do Aeroporto internacional de Honduras para impedir a aterrisagem do presidente Zelaya.

Corbisier nos escreveu certa vez que a Revolução dos Cravos em Portugal nos provou que é possível ser militar sem ser fascista. O que será necessário para manter esta afirmação viva hoje? Parece que de tempos em tempos nossa querida América Latina e sua democracia são tomada por gorilas fardados e enquanto isso, os liberais "mais sóbrios" continuam a exigir mais democracia e regulação e defendem os direitos humanos como remédio para estes arroubos totalitários... Como se não houvesse a menor causalidade histórica entre a dinâmica de expansão absolutamente necessária para a manutenção do capitalismo, e as ditaduras militares de direita que de tempos em tempos brotam dos bueiros latino-americanos.

Para dar uma última palavra: lembro-me da piada do sujeito que vai ao Canadá para caçar ursos. Num ano ele vai, mata um urso e um outro urso maior ainda o "enraba". No outro ano, movido por desejo de vingança, o sujeito encontra o urso pederasta e o mata. Logo em seguida, um amigo do urso aparece e obriga o sujeito a repetir o ato do ano passado. E assim durante alguns anos... até que um dia um Urso, maior de todos, pergunta-lhe:

- Fala sério... Você não vem aqui pra caçar ursos mesmo, né?

Em relação ao fetiche por homens de farda, não podemos dizer o mesmo dos liberais sóbrios que protestam contra os reitarados golpes militares fascistóides da América Latina com pedidos de regulação, mais democracia e mais Direitos Humanos? Eles não estão aqui para defender os Direitos Humanos mesmo, né?

Um comentário:

Bruno Quadros e Quadros disse...

Fala Chrysantho, beleza?

O que me parece é que nos anos 2000 a figura de Chávez acabou por "assombrar" os segmentos conservadores da América Latina. Desta feita, qualquer líder político do subcontinente com um discurso minimamente reformista que tomar a iniciativa de convocar uma nova Assembleia Constituinte e adotar medidas distributivas mais ousadas, entre outras ações, já será arbitrariamente rotulado como "filo-chavista". Para mim, esta abordagem conservadora é no mínimo reducionista, pois faz tábula rasa dos contextos político-sociais de cada Estado da região. Na América Central, por exemplo, há questões específicas que não vemos na Venezuela: as (tensas) relações inter-étnicas entre os brancos, os mestiços e os descendentes dos maias; a questão da emigração para os EUA; e a atuação cada vez mais violenta e transnacional das "maras" (as gangues centro-americanas).

Creio que é somente neste contexto de suposta "chavização" da América Latina que se pode explicar, por exemplo, a pressa do salvadorenho Mauricio Funes em declarar que manterá boas relações com os EUA, afastando assim os rumos sobre a sua "chavização".

Por último, convido-o a visitar o meu blog de análise e discussão de questões internacionais, em http://analise-internacional.blogspot.com . Lá, há a possibilidade de você se cadastrar como seguidor e assim receber todas as atualizações em seu e-mail.

Um grande abraço,

Bruno.