Michel Löwy nos narra na apresentação à edição brasileira de seu Walter Benjamin: Aviso de Incêndio, a notável história de como Benjamin teria sido quase contratado pela USP, não fosse as incompetências de algumas autoridades acadêmicas. Mas se Benjamin acaba não saindo da vida intelectual-política para entrar na academia uspiana, o cenário político eleitoral hoje, não é uma prova de que Benjamin saiu da academia uspiana para entrar na vida intelectual-política na figura de Plínio de Arruda Sampaio?
Benjamin, na primeira de suas Teses sobre o conceito de história, fala sobre como a teologia deve ser aquilo que anima o "boneco do materialismo histórico". Como interpretar o significado desta tese?
É interessante notar que décadas mais tarde, Zizek em sua obra mais sistemática, desenvolve as bases de uma parte importante de seu sistema teórico, aquilo que chama de "tijolos da teologia materialista".
O que é comum tanto em Benjamin quanto em Zizek é a postura contrária a uma redução vulgar do materialismo histórico-dialético, a um determinismo mecanicista de causas-consequências que, substituindo o conservadorismo religioso próprio do começo do século, poderia ser tão ou mais nocivo para os movimentos emancipatórios e suas lutas contra-ideológicas. Lembremos a citação de Zizek ao "primeiro Lenin" (antes dos estudos hegelianos) de como a realidade material e concreta é inatingível à perspectiva humana, que o que podemos fazer é teorizá-la sempre parcialmente.
Ora, o problema desta tese (posteriormente corrigida por Lenin quando retorna dos seus estudos hegelianos propondo a criação de uma "sociedade dos amigos materialistas da dialética hegeliana") é que, no exato momento em que a realidade material é concebida desta forma, ela se torna exatamente o contrário do que pretende: uma idéia transcendental.
O materialismo vulgar é o que visa a apreensão sempre gradativa da totalidade da realidade existente, como se esta própria realidade fosse, em si mesma, completa, fechada e perfeita. Contrariamente, o verdadeiro ponto materialista-dialético, não é outro senão coneber como a própria realidade é feita, ela própria, de rupturas e "mistérios"!
Lembremos a estrutura das histórias de detetive: o primeiro ponto notado por qualquer leitor de Agatha Christie ou Connan Doyle é que toda história de detetive é eminentemente materialista. Se uma história de Sherlock Holmes acabasse com uma explicação teológico-transcendental - do tipo "o crime se explica porque o assassino é um fantasma capaz de atravessar paredes" ou coisas do tipo - nos sentiríamos, os leitores, profundamente traídos pelo enredo! Porque diabos nos daríamos ao trabalho de ler Sherlock Holmes se a explicação fosse metafísica?
Entretanto a única coisa que pode sustentar este método rigorosamente materialista do detetive é a existência de um mistério inscrito na própria realidade, de um problema, na cena do crime, que parece absolutamente obscurantista, que resiste à explicação racional imediata. O que este "mistério" aparentemente "transcendental" tem como função, é justamente forçar no sujeito (no caso o nosso detetive, Holmes) a "fé" no materialismo e, exatamente por esta fé, criar o espaço para o (res)surgimento de uma (nova) teoria absolutamente materialista da explicação racional do mistério. Este elemento de "fé" é o que permite ao materialismo refundar-se e reforçar-se como teoria (e conseqüentemente como práxis)!
No momento em que o maior desastre da política nacional, nos dezesseis anos de tucanato de FHC, é sustentado por um presidente que se declara (até mesmo de forma suicida) rigorosamente ateu e que este seu ateísmo materialista é justamente o que sustenta sua política consevadora baseada no argumento "não existem condições materiais para o socialismo", argumento este repetido pelo Partido Termidoriano de Lula, não é notável a gritante validade da primeira tese de Benjamin sobre o conceito de história?
As ironias da história surpreendem-nos sempre! Não é a toa que a esquerda brasileira tenha, hoje, condições de se refundar com o apoio de Plínio de Arruda Sampaio. Afinal, se Benjamin usa a metáfora do "boneco do materialismo histórico" e da teologia como seu "ventríloquo", não é exatamente isto que sustenta Plínio quando afirma que seu Marxismo tem "sotaque cristão"? E não é aqui que nós, sujeitos da recriação teórico-prática do materialismo dialético da esquerda brasileira, devemos nos referenciar?
O postulado benjaminiano de Plínio se encontra na segunda parte do Vídeo:
Benjamin, na primeira de suas Teses sobre o conceito de história, fala sobre como a teologia deve ser aquilo que anima o "boneco do materialismo histórico". Como interpretar o significado desta tese?
É interessante notar que décadas mais tarde, Zizek em sua obra mais sistemática, desenvolve as bases de uma parte importante de seu sistema teórico, aquilo que chama de "tijolos da teologia materialista".
O que é comum tanto em Benjamin quanto em Zizek é a postura contrária a uma redução vulgar do materialismo histórico-dialético, a um determinismo mecanicista de causas-consequências que, substituindo o conservadorismo religioso próprio do começo do século, poderia ser tão ou mais nocivo para os movimentos emancipatórios e suas lutas contra-ideológicas. Lembremos a citação de Zizek ao "primeiro Lenin" (antes dos estudos hegelianos) de como a realidade material e concreta é inatingível à perspectiva humana, que o que podemos fazer é teorizá-la sempre parcialmente.
Ora, o problema desta tese (posteriormente corrigida por Lenin quando retorna dos seus estudos hegelianos propondo a criação de uma "sociedade dos amigos materialistas da dialética hegeliana") é que, no exato momento em que a realidade material é concebida desta forma, ela se torna exatamente o contrário do que pretende: uma idéia transcendental.
O materialismo vulgar é o que visa a apreensão sempre gradativa da totalidade da realidade existente, como se esta própria realidade fosse, em si mesma, completa, fechada e perfeita. Contrariamente, o verdadeiro ponto materialista-dialético, não é outro senão coneber como a própria realidade é feita, ela própria, de rupturas e "mistérios"!
Lembremos a estrutura das histórias de detetive: o primeiro ponto notado por qualquer leitor de Agatha Christie ou Connan Doyle é que toda história de detetive é eminentemente materialista. Se uma história de Sherlock Holmes acabasse com uma explicação teológico-transcendental - do tipo "o crime se explica porque o assassino é um fantasma capaz de atravessar paredes" ou coisas do tipo - nos sentiríamos, os leitores, profundamente traídos pelo enredo! Porque diabos nos daríamos ao trabalho de ler Sherlock Holmes se a explicação fosse metafísica?
Entretanto a única coisa que pode sustentar este método rigorosamente materialista do detetive é a existência de um mistério inscrito na própria realidade, de um problema, na cena do crime, que parece absolutamente obscurantista, que resiste à explicação racional imediata. O que este "mistério" aparentemente "transcendental" tem como função, é justamente forçar no sujeito (no caso o nosso detetive, Holmes) a "fé" no materialismo e, exatamente por esta fé, criar o espaço para o (res)surgimento de uma (nova) teoria absolutamente materialista da explicação racional do mistério. Este elemento de "fé" é o que permite ao materialismo refundar-se e reforçar-se como teoria (e conseqüentemente como práxis)!
No momento em que o maior desastre da política nacional, nos dezesseis anos de tucanato de FHC, é sustentado por um presidente que se declara (até mesmo de forma suicida) rigorosamente ateu e que este seu ateísmo materialista é justamente o que sustenta sua política consevadora baseada no argumento "não existem condições materiais para o socialismo", argumento este repetido pelo Partido Termidoriano de Lula, não é notável a gritante validade da primeira tese de Benjamin sobre o conceito de história?
As ironias da história surpreendem-nos sempre! Não é a toa que a esquerda brasileira tenha, hoje, condições de se refundar com o apoio de Plínio de Arruda Sampaio. Afinal, se Benjamin usa a metáfora do "boneco do materialismo histórico" e da teologia como seu "ventríloquo", não é exatamente isto que sustenta Plínio quando afirma que seu Marxismo tem "sotaque cristão"? E não é aqui que nós, sujeitos da recriação teórico-prática do materialismo dialético da esquerda brasileira, devemos nos referenciar?
O postulado benjaminiano de Plínio se encontra na segunda parte do Vídeo: