quarta-feira, 29 de julho de 2009

A bomba de Osama estourou em Obama: uma visão geral sobre a crise e o caso Honduras!

No último número da revista cult, tanto Slavoj Zizek quanto Vladimir Safatle se perguntam pelo destino da democracia nos anos que virão...

Esta crise do capitalismo é irreversível. Com isto não estamos querendo dizer que o capitalismo vai emperrar e ruir, de repente, de uma hora pra outra nos próximos anos... mas temos que ter em mente que: Sim! O capitalismo vai continuar se nada for feito. Mas, ao mesmo tempo, não será possível prever a custa do que o capital atenderá seus imperativos existnciais de acumulação e expansão. Não é esta a principal pataquada do pensamento neo-keynesiano? Claro que a alternativa keynesiana "funcionou" nos tempos que seguiram à crise de 29... Mas o que é claro para qualquer liberal-tolerante mais ou menos honesto, é que a recuperação subsequente permitiu ao capitalismo se expandir geo-politicamente, atingindo áreas em que o capitalismo ainda não havia chegado e permitindo assim a criação de novos mercados. Hoje, faremos o que? Conquistar mercados na lua ou em marte (diga-se de passagem, este era o imaginário ideológico-hollywoodiano dos anos 60!)? E considerando que a dinâmica do capitalismo é pulsional, circulando em torno de si mesma, sem objetivos, Capitalismo só existe enquanto acumulação para expansão, expansão para mais acumulação, e assim por diante!

A partir de agora, o capitalismo propulsiona sua dinâmica destrutiva: tudo o que não for valor direto, tudo o que for antivalor é excluído. Acabou: educação, saúde, previdência social, direitos trabalhistas... algo vai mudar drasticamente neste campo (e em todo o mundo) entre os anos de 2010 e 2020... isto se não contarmos com a previsão de Fernando Marcellino sobre a completa derrocada do sistema financeiro mundial em setembro deste ano (daqui dois meses).

Daí a discussão de Zizek e Safatle: qual o modelo de maior crescimento econômico no mundo contemporâneo? Não seria o Estado Chinês? O Estado do Capital perfeito: o Estado só funciona para incentivar a produção de mercadorias de um lado e descer o sarrafo nos trabalhadores de outro, sem a menor interferência da democracia e dos democratas sensíveis!

É com esta reflexão que devemos olhar para o caso Honduras. E o fato de Honduras representar um papel muito modesto frente à dinâmica do capital global, ao contrário, só deve nos alertar para a monstruosidade do problema.

O Evento em que um presidente liberal-democrata (não um comunista radical) resolve realizar mudanças mínimas na constituição do país que garantisse maiores direitos democráticos aos seus cidadãos e uma aliança bastante modesta com a Venezuela e Chávez, para conseguir petróleo mais barato e contrabalancear o poder que os Estados Unidos exercem sobre a região desde os tempos em que Honduras era literalmente uma república das bananas (Todas as grandes empresas de plantio e colheita de bananas em honduras durante o fim do século XIX e início do século XX eram norte-americanas, sem falar na repressão à greve geral dos trabalhadores destas empresas que foi reprimida não pela polícia hondurenha mas sim pela marinha norte-americana) sobretudo quando estamos diante do primeiro golpe militar na américa latina desde o fim da guerra fria deixa claro o problema: a democracia (assim como o capitalismo) pela primeira vez se defronta com ela mesma! Ela é insustentável não por culpa do SOREX (socialismo realmente existente), Krushev, Stalin, Fidel, Cháves ou qualquer personificação do inimigo externo que perturba a ordem harmônica do bom senso capitalista e democrata: a democracia é um empecilho para o capitalismo a partir de agora!

E neste sentido parece que a bomba de Osama estourou em Obama!... o que fica claro da postura norte-americana, ainda que Bush e Obama tenham programas políticos levemente diferentes (acho que a maior diferença não é em termos de programas políticos, mas de inteligência mesmo!), é a inconsistência em relação ao discurso proclamado aos quatro cantos do mundo de que a invasão do iraque foi em nome da democracia (como instituição supra-capitalismo, acima das questões mundanas do mundo econômico) e a atual postura arredia dos Estados Unidos frente à Ditadura Gorila de Honduras! Como disse Immanuel Wallerstein em artigo à folha: o problema de Honduras está nas últimas posições das prioridades de Obama e da política nacional e internacional norte-americana! Ou: com a crise hoje, a Democracia está nos últimos lugares da lista de prioridades do Imperialismo Norte-Americano! Zelaya passeia de um canto a outro do mundo, conversa com Hillary Clinton, conversa com sindicalistas da américa central, pede por mais pressão política contra o governo golpista de Micheletti, compra um jipe para voltar ao poder dirigindo... e nada!

Obama provou ao mundo que é impossível ser liberal-democrata hoje! E Zizek tem razão quando afirma: só a esquerda radical, somente nós comunistas, podemos salvar o mínimo de democracia que temos hoje! Não me espantaria que Obama não aguentasse a pressão e saísse de cena até o fim de 2010! Claro que me refiro não ao caso de Honduras isoladamente, mas a série de problemas com os quais Barack Obama se defrontou nestes poucos meses de governo, a crescente insatisfação do povo norte-americano com suas políticas, a incapacidade de ser liberal e democrata como um todo!

Seguindo o prognóstico Zizekiano de que em breve veremos Berlusconi's no poder em todos os países do mundo ocidental, em Honduras ela já começou a se concretizar - só que um Berlusconi latino-americano teria que vestir uma farda!

O que vemos nestes eventos é nada mais nada menos que o fim do fim da história. Se os eventos de 11 de setembro demonstraram que a democracia, após suas 2 décadas de livre desenvolvimento pós-moderno, não era a fórmula definitiva, é agora com a crise, e com a pressão que um evento político tão insignificante para o capitalismo global, mas tão significante para a manutenção do discurso legitimador liberal-democrata, agora podemos ler o desfecho, a negação da negação dos atentados talibãs!

4 comentários:

Unknown disse...

afonso,
concordo que o "capitalismo revolutions", por sua dinamica, deva deixar para trás progressivamente a democracia. Como se sustentaria um "direito"?

Chrysantho Sholl Figueiredo disse...

Difícil... boa questão...
Mas me parece que pouca coisa muda em termos de funcionamento do Direito... o Direito nao vai deixar de ser uma linguagem justificadora do poder. O que me pergunto é como ficarão os textos explícitos que se referem a direitos e garantias fundamentais... mas ouso dizer que esta minha indagação é mais uma curiosidade pessoal... não creio que isto seria prejudicial pro funcionamento do Direito. Novas constituições com um enxugamento significativo no que diz respeitos aos direitos sociais, políticos etc não vão afetar o Direito de forma tão traumática... ele vai sobreviver e bem, penso eu!

Mas é uma questão a ser pensada com mais calma!

Felipe disse...

A casa caiu. E eu tenho a impressão de que a criminologia já tinha visto isso há muito tempo.

Chrysantho Sholl Figueiredo disse...

É verdade! Principalmente porque, de agora em diante, com o desdobramento da crise, me parece quase inevitável a privatização em massa dos presídios no mundo ocidental... coisa que já preocupa os criminólogos marxistas há algum tempo.

A questão é: será que a criminologia vai conseguir sair do seu marasmo "apolítico" ou "pós-político"?