Ultimamente uma das discussões jornalescas de maior veiculação tem sido a tal Comissão da Verdade para apurar crimes contra a Humanidade cometidos durante o regime militar que tinha por objetivo, dentre outras coisas, retirar o nome de Militares Gorilas de Ruas, Avenidade, Praças e outros lougradores públicos do Brasil, além de identificar locais que foram utilizados para violação de Direitos Humanos por parte dos Chacais da Ditadura.
Os militares, como era de se esperar, reagiram histericamente contra estas duas "cláusulas" da operação pela verdade. O que mais choca é justamente o fato de que a palavra verdade deve, realmente, aqui ser escrita com "v" minúsculo, pois se trata de uma operação estritamente Democrata e a Democracia, como tal, é oposta à qualquer Verdade. E o governo Lula - composto por um ex-sindicalista preso pela ditadura, além de outros que participaram inclusive da militância armada contra a ditadura e foram presos e torturados por isto - respondeu em tom pacificador: a solução, para ele, é encontrar o "meio termo" sentar para discutir com os militares.
Os Gorilas, mais uma vez histéricos, tentaram pressionar o governo Lula usando como argumento o fato de que se a Dilma Roussef fosse eleita, eles teriam mais dificuldade em barganhar uma vez que ela foi presa e torturada pelos militares em decorrência de sua militância armada. E a resposta de Dilma foi algo como: "quanto a isso ninguém deve se preocupar pois não tenho raiva dos militares". Que lindo! Dilma não guarda rancor da corja que sustentou o capitalismo brasileiro, por vinte anos, com base na política de exceção e extermínio!
Alain Badiou, filósofo e militante comunista francês, em seu Compêndio de Metapolítica, demonstra como a atitude filosófica de uma "filosofia política" é uma atitude especulativa que tem a vantagem de 1 - dar diagnósticos e analizar a política; 2 - determinar os princípios de uma boa política; e 3 - não militar em nenhum processo político efetivo. Para tanto Badiou propõe a fundação de uma "Metapolítica" que teria por função se dizer um pensamento político na exata medida em que declara, ela própria, o que é um pensamento político.
Aqui vemos o objetivo de Badiou: não "objetificar" o pensamento político, ou seja, não amarrar a sua existência à nenhuma causalidade histórica ou científica, mas sustentá-lo por ele próprio e no interior dele próprio: política, passa a ser assim, um pensamento que só pode ser compreendido na medida em que adentramos sua singularidade e manuseamos as categorias que este pensamento político sustenta para si próprio e na idéia que tem, para si próprio, do que seja política.
É que para Badiou, política é o nome de um "procedimento-Verdade". E toda a Verdade é universal, sem dúvida, mas sustentada a partir de uma singularidade, de um "grupo" de pessoas que, não fazendo parte da situação política em que se encontra, não fazendo parte da Ordem Política que existe, se desliga desta ordem afirmando sua Universalidade precisamente enquanto permanecem singulares e exteriores à todas as partes que compôem esta Ordem Política, os famosos "excluídos". Esta "singularidade Universal" no entando, não só não compôe a Ordem Política existente, mas em termos filosóficamente mais abrangentes, não compõe a "Ordem do Ser" na medida em que uma Ordem Política está ligada à uma Ideologia, e uma Ideologia é aquilo que diz o que o mundo é, objetivamente! Logo, toda Política enquanto Verdade singularmente Universal, se desliga daquilo que é, liga-se àquilo que é possível e, portanto, não pode ser objetivável, não pode ser descrita como processo objetivo, mas como processo subjetivo de sujeitos que se engajam na militância não por um interesse também objetivo, mas por uma afirmação de si próprio e para si próprio do que é ser Sujeito e do que é ser Político!
O importante aqui é frisar que, com isso, um processo político de Verdade, por não estar ligado à ordem objetiva daquilo que é (pois ela é sempre ideológica) também não está ligado à nenhuma causalidade histórica: não é possível explicar uma singularidade política nem por aquilo que lhe deu causa nem é possível afirmar sua essência por aquilo que ela "resultou". Pois o "resultado" nada mais é do que outra sequencia política que advém a partir de seu fechamento, a partir de seu esgotamento interno e para si próprio. (A revolução bolchevique, por exemplo, não pode ser culpada nem pelo stalinismo, nem pode ser "decodificada" pela queda do muro de Berlim).
Singularidades Políticas são a Política Revolucionária Francesa (Robespierre, Saint-Just, etc.) A Política Bolchevique (Lênin) e outras que têm como princípios um igualitarismo (não enquanto objetivo a ser seguido, mas enquanto prática que coloca todos sob a Única condição de serem homens e portanto capazes de pensar por si próprios) e uma subjetivação que não se dá por meio da Lei (ninguém é obrigado a militar, mas se subjetiviza para si próprio por meio de sua militância).
Badiou também identifica uma outra política singular: Aquela do "Termidorismo" que teve lugar na França após 1794 com o objetivo de massacrar os últimos revolucionários como Roberspierre e Saint-Just e afirmar a Ordem Estatal (objetiva) de defesa dos proprietários e seus interesses. A singularidade do Termidorismo se explica como aquilo que advém à um procedimento político para torcer-lhe a verdade singular, deturpar suas categorias internas (por exemplo criticando a categoria de "terror" de Robespierre e Saint-Just sem demonstrar de que forma "terror" está ligado à "virtude") e afirmar a Ordem do Ser e do Estado. Mais do que isso os agentes do termidorismo são, sem exceção, ex revolucionários.
Creio que o movimento sindical do ABC pode ser identificado como uma singularidade Política Universal, como um procedimento-Verdade. As guerrilhas armadas urbanas e camponesas no Brasil durante a Ditadura também se atrelam a esta característica e só podem ser pensados enquanto interioridade, o que implica dizer, por exemplo, que a sequencia política deste movimento sindical não resulta objetivamente no governo Lula que, como tal, azeitou o capitalismo brasileiro de uma vez por todas.
Mas então, não podemos dizer, quando das tentativas de Lula de concilar-se com a corja Gorila e das declarações bom-samaritanistas de Dilma de que não guarda rancor por ter sido torturada, que o PT perdeu a singularidade de Partido dos Trabalhadores para adentrar na seqüência política que o caracterizaria como o Partido dos Termidorianos?
Os militares, como era de se esperar, reagiram histericamente contra estas duas "cláusulas" da operação pela verdade. O que mais choca é justamente o fato de que a palavra verdade deve, realmente, aqui ser escrita com "v" minúsculo, pois se trata de uma operação estritamente Democrata e a Democracia, como tal, é oposta à qualquer Verdade. E o governo Lula - composto por um ex-sindicalista preso pela ditadura, além de outros que participaram inclusive da militância armada contra a ditadura e foram presos e torturados por isto - respondeu em tom pacificador: a solução, para ele, é encontrar o "meio termo" sentar para discutir com os militares.
Os Gorilas, mais uma vez histéricos, tentaram pressionar o governo Lula usando como argumento o fato de que se a Dilma Roussef fosse eleita, eles teriam mais dificuldade em barganhar uma vez que ela foi presa e torturada pelos militares em decorrência de sua militância armada. E a resposta de Dilma foi algo como: "quanto a isso ninguém deve se preocupar pois não tenho raiva dos militares". Que lindo! Dilma não guarda rancor da corja que sustentou o capitalismo brasileiro, por vinte anos, com base na política de exceção e extermínio!
Alain Badiou, filósofo e militante comunista francês, em seu Compêndio de Metapolítica, demonstra como a atitude filosófica de uma "filosofia política" é uma atitude especulativa que tem a vantagem de 1 - dar diagnósticos e analizar a política; 2 - determinar os princípios de uma boa política; e 3 - não militar em nenhum processo político efetivo. Para tanto Badiou propõe a fundação de uma "Metapolítica" que teria por função se dizer um pensamento político na exata medida em que declara, ela própria, o que é um pensamento político.
Aqui vemos o objetivo de Badiou: não "objetificar" o pensamento político, ou seja, não amarrar a sua existência à nenhuma causalidade histórica ou científica, mas sustentá-lo por ele próprio e no interior dele próprio: política, passa a ser assim, um pensamento que só pode ser compreendido na medida em que adentramos sua singularidade e manuseamos as categorias que este pensamento político sustenta para si próprio e na idéia que tem, para si próprio, do que seja política.
É que para Badiou, política é o nome de um "procedimento-Verdade". E toda a Verdade é universal, sem dúvida, mas sustentada a partir de uma singularidade, de um "grupo" de pessoas que, não fazendo parte da situação política em que se encontra, não fazendo parte da Ordem Política que existe, se desliga desta ordem afirmando sua Universalidade precisamente enquanto permanecem singulares e exteriores à todas as partes que compôem esta Ordem Política, os famosos "excluídos". Esta "singularidade Universal" no entando, não só não compôe a Ordem Política existente, mas em termos filosóficamente mais abrangentes, não compõe a "Ordem do Ser" na medida em que uma Ordem Política está ligada à uma Ideologia, e uma Ideologia é aquilo que diz o que o mundo é, objetivamente! Logo, toda Política enquanto Verdade singularmente Universal, se desliga daquilo que é, liga-se àquilo que é possível e, portanto, não pode ser objetivável, não pode ser descrita como processo objetivo, mas como processo subjetivo de sujeitos que se engajam na militância não por um interesse também objetivo, mas por uma afirmação de si próprio e para si próprio do que é ser Sujeito e do que é ser Político!
O importante aqui é frisar que, com isso, um processo político de Verdade, por não estar ligado à ordem objetiva daquilo que é (pois ela é sempre ideológica) também não está ligado à nenhuma causalidade histórica: não é possível explicar uma singularidade política nem por aquilo que lhe deu causa nem é possível afirmar sua essência por aquilo que ela "resultou". Pois o "resultado" nada mais é do que outra sequencia política que advém a partir de seu fechamento, a partir de seu esgotamento interno e para si próprio. (A revolução bolchevique, por exemplo, não pode ser culpada nem pelo stalinismo, nem pode ser "decodificada" pela queda do muro de Berlim).
Singularidades Políticas são a Política Revolucionária Francesa (Robespierre, Saint-Just, etc.) A Política Bolchevique (Lênin) e outras que têm como princípios um igualitarismo (não enquanto objetivo a ser seguido, mas enquanto prática que coloca todos sob a Única condição de serem homens e portanto capazes de pensar por si próprios) e uma subjetivação que não se dá por meio da Lei (ninguém é obrigado a militar, mas se subjetiviza para si próprio por meio de sua militância).
Badiou também identifica uma outra política singular: Aquela do "Termidorismo" que teve lugar na França após 1794 com o objetivo de massacrar os últimos revolucionários como Roberspierre e Saint-Just e afirmar a Ordem Estatal (objetiva) de defesa dos proprietários e seus interesses. A singularidade do Termidorismo se explica como aquilo que advém à um procedimento político para torcer-lhe a verdade singular, deturpar suas categorias internas (por exemplo criticando a categoria de "terror" de Robespierre e Saint-Just sem demonstrar de que forma "terror" está ligado à "virtude") e afirmar a Ordem do Ser e do Estado. Mais do que isso os agentes do termidorismo são, sem exceção, ex revolucionários.
Creio que o movimento sindical do ABC pode ser identificado como uma singularidade Política Universal, como um procedimento-Verdade. As guerrilhas armadas urbanas e camponesas no Brasil durante a Ditadura também se atrelam a esta característica e só podem ser pensados enquanto interioridade, o que implica dizer, por exemplo, que a sequencia política deste movimento sindical não resulta objetivamente no governo Lula que, como tal, azeitou o capitalismo brasileiro de uma vez por todas.
Mas então, não podemos dizer, quando das tentativas de Lula de concilar-se com a corja Gorila e das declarações bom-samaritanistas de Dilma de que não guarda rancor por ter sido torturada, que o PT perdeu a singularidade de Partido dos Trabalhadores para adentrar na seqüência política que o caracterizaria como o Partido dos Termidorianos?
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