Se a Europa "aceitou" mais facilmente o reconhecimento do Haiti como nação livre (após o pagamento de indenizações aos ex-proprietários de escravos), quanto ao reconhecimento da independência Haitiana por parte dos Estados Unidos, a coisa não foi tão simples assim. Foram 60 anos até que a “terra da liberdade” reconhecesse a independência do país. Reconhecimento este que não tardou em demonstrar sua verdade. Menos de 60 anos após o reconhecimento oficial da independência do Haiti, em 1915, os EUA invadem o Haiti para a defesa dos interesses do City Bank e da National Railroad.
Em 1917, Charlemagne Perálte organiza um levante contra a ocupação norte-americana, liderando o grupo guerrilheiro conhecido como Cacos, nome que remontava às tropas rurais que participaram da revolução Haitiana do início do século XIX. Perálte é assassinado dois anos mais tarde, em 1919.
Em 1934 “termina a ocupação norte-americana no Haiti, por decisão do governo Hoover, provavelmente muito mais preocupado com a crise e com a “invenção do keynesianismo”. Em agosto deste ano são retiradas as últimas tropas de mariners americanos que ocupavam o país, muito embora os Estados Unidos tenham deixado em seu lugar o exército nativo, armado pelo próprio exército estadunidense, chamado Haitian Constabulary.
Entre a catástrofe da "Boa Vizinhança de Bush I e o Humanilitarismo de Obama".
Em 1990 o movimento Fanmi Lavalás leva democraticamente ao poder o Padre Católico progressita Jean-Bertrand Aristide. Pouco tempo depois é organizado um golpe que depõe Aristide. O que poucos sabem é que o golpe não foi conseqüência de um movimento popular genuíno insatisfeito com as políticas democráticas de Aristide. Mas uma orquestração do governo Bush que financiou armas aos senhores da Guerra haitianos, por um lado, e por outro cortando ajuda financeira oficial ao país.
Aristide é então levado aos Estados Unidos, onde permanece até 1994 quando o governo Clinton o restabelece no poder para que termine o mandato oficial (que iria até 1996) e realize novas eleições. As eleições são realizadas com sucesso, embora com candidato único e com 80% de abstenção da população haitiana, levando ao poder o conservador, mas simpatizante do governo ianque, René Preval, que permanece pacificamente no poder até 2000, quando começa a segunda era Bush.
Em 2000 Jean-Bertrand Aristide é reeleito presidente do Haiti, porém estouram algumas alegações de irregularidade nas eleições (a terceira eleição democrática em 200 anos de independência). É claro que tais “irregularidades” nem se comparam ao conto de fadas das contagens, recontagens, e tricontagens de votos das eleições que levaram o “presidente” Bush II ao poder com a polêmica votação da Florida. Assim, convocam-se novas eleições.
Porém a direita do Haiti se recusa a participar e Bush II nega a ajuda prometida de 500 milhões para o governo haitiano até que fossem realizadas novas eleições, deixando o governo de Aristide num impasse polítio-econômico.
O crime de Aristide foi a proposta e a posterior tentativa de implementá-la, de aumentar o salário mínimo no Haiti para a quantia de dois dólares ao dia, despertando a ira das empresas e corporações americanas que estavam instaladas no país para o aproveitamento da mão-de-obra barata. Neste clima de instabilidade, vai se apertando cada vez mais o garrote que sufocava o governo Aristide, sob a orquestração do governo Bush II de um lado e das empresas e coorporações multinacionais instaladas no país sob a liderança política de André “Andy” Apaid, empresário da Alpha Industries cidadão Americano mas residente no Haiti.
Apaid era considerado a peça chave da “reforma de mercado” que o governo Reagan-Bush estabeleceu na ilha caribenha que, dentre outras medidas, estabeleceu a queda dos impostos de importação sobre o Arroz (artigo crucial na economia haitiana) levando a produção local de arroz à bancarrota e ao desemprego de milhares de camponeses que se viram obrigados a engrossar a concorrência da mão-de-obra barata do Haiti, o que favoreceu, principalmente, a empresa de Apaid. Vale lembrar que estas reformas foram estabelecidas em definitivo como condição imposta à Aristide por parte do governo Clinton, para que o presidente deposto pudesse voltar ao governo. A fome no Haiti não é conseqüência do terremoto: é um programa político e econômico que vem sendo organizado há mais de 15 anos em conchavo pelos Estados Unidos e pelos grupos mais conservadores do país.
Após a polêmica do aumento dos salários, Andy Apaid liderando o Grupo dos 184, passou a pressionar novamente o governo Aristide, em decorrência do aumento salarial imposto por sua política, e, com o apoio do contrabando de armas oferecidas pelos Estados Unidos, entrando no país através da República Dominicana. Em 2004 o Grupo dá o ultimato: ou Aristide renuncia a presidência e embarca para a África ou ninguém se responsabilizará pelo assassinato do presidente, a ser cometido pelos senhores da guerra haitianos. É a volta da ocupação norte-americana no país e a entrada de tropas brasileiras no local.
Em 2009 ocorrem eleições para o senado com nada mais nada menos do que 90% de abstenção por parte da população haitiana em protesto à decisão do governo apoiado pelos EUA que impediu que o partido mais popular do país, o movimento Fanmi Lavas, de onde surgiu o governo Aristide, participasse das eleições.
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