Já discutimos no último post o que seria o conceito de Entendimento Político como fixação dos termos opostos do antagonismo social como princípio de identificação. E chegamos até mesmo a vincular este princípio de identificação com a forma com que a democracia, hoje, se utiliza do discurso de "novas identidades" para se legitimar.
O que parece necessário, entretanto, é desdobrar esta relação de forma um pouco mais complexa.
Hegel nos aponta que o saber em geral está ligado a uma relação específica entre o Eu e um objeto determinado, relação esta chamada por ele de consciência. E é Creston Davis quem afirma que, para Hegel, antes de tudo existe a relação. Mas como devemos ler esta afirmação de Davis? A resposta parece ser a mais óbvia: de forma literal!
Ou seja, antes de tudo, aqui significa antes de tudo mesmo, antes inclusive do próprio Eu e do próprio objeto.
Hegel afirma que a consciência (relação Eu-objeto) se manifesta de várias formas conforme são as variações do objeto e do sujeito que se debruça sobre ele. Por isso, afirma também que o saber em geral (ao menos em sua época) se preocupava apenas com o objeto sem levar em conta o próprio saber e a própria subjetividade: "Ora, tudo o que é dado no saber não se reduz ao objeto: contém também o Eu que sabe, e a relação recíproca entre o Eu e o objeto: a consciência".
Daí, Hegel derivará - como era de se esperar - 3 momentos da manifestação da consciência: em primeiro lugar, a relação simples entre o Eu e um objeto exterior, a consciência em geral; em segundo lugar a relação entre Eu e Eu, a consciência de si simples; e finalmente a consciência de uma realidade objetiva que, entretanto, pertence ao próprio Eu: o pensamento.
Em ttermos gráficos, o que temos é uma relação: a) Eu - objeto; b) Eu - Eu; c) Eu - (Eu - Eu). Esta última é a consciência de si para uma consciência de si.
O fundamental aqui é perceber que, da impossibilidade de um sujeito conhecer objetivamente uma realidade exterior, passa-se para o saber sobre sua própria subjetividade. Este processo, entretatno, não é suficiente e é igualmente impossível. Tudo, até agora, é mediado pelo entendimento. E o conhecer sobre a subjetividade e sobre o Eu, torna este Eu e esta subjetividade um objeto igualmente impossível de ser conhecido. O raciocínio aqui é a incompassibilidade entre os dois Eu's da relação Eu - Eu. O primeiro Eu é o ser que conhece e o segundo Eu é um mero objeto.
O terceiro passo, ou a síntese, é a passagem para o saber sobre esta própria relação: como eu posso me debruçar sobre um objeto, como surge a consciência, de que maneira ela é mediada. No gráfico "Eu - (Eu - Eu)", vemos a consciência de si colocada como objeto, ou seja, o objeto é tanto o Eu que conhece quanto o objeto, nas palavras de Hegel. É isto que permite a emergência do espírito como um mero Eu = Eu desprovido de conteúdo: em outras palavras, uma vez que o objeto é sempre outra coisa, porque sua aparência é enganadora, por ser mediada pelo entendimento, esta "consciência de si para uma consciência de si" é o que permite à consciência se identificar diretamente com esta outra coisa, uma vez que seu objeto já é a relação entre Eu e Eu, as duas formas assimétricas do Eu (o Eu que conhece e o Eu objeto) de forma que esta relação surja imediada.
A saída pós-moderna, mais uma vez, parece ser o mais fácil: "já que não podemos conhecer nada de forma objetiva, devemos nos voltar para nossa relação com nosso 'Eu interior'".
Em termos políticos: "já que não podemos saber a verdade sobre o capitalismo e a Democracia, já que não podemos saber qual a alternativa perfeita ao capitalismo e à Democracia, a saída é conhecer nossas necessidades interiores ou "locais" , dentro de cada um dos múltiplos movimentos em que se fragmentou a esquerda".
Aqui a afirmativa hegeliana de que o saber se preocupa com a relação entre o Eu e o objeto é historicamente equivocada: hoje, o saber se volta cada vez mais para a relação entre o Eu e o Eu (interior).
A pergunta que fica no ar é: esta relação é objetiva/não mediada?
A única saída, portanto, parece ser a síntese dos movimentos para a pergunta: de que forma experimentamos tanto o mundo exterior quanto a minha própria subjetividade/identidade como realidades imediatas?
Afinal, se a questão da subjetividade emerge da "percepção" de que o objetivo não é acessível, também outro momento deve surgir desta impossibilidade de acesso ao subjetivo: donde o questionamento e a conseqüente superação da mediação que me permite experimentar minha identidade como algo natural ou imediato.
Caso contrário estamos somente reproduzindo o Entendimento Político Democrata e abrindo portas ao desenvolvimento irrestrito do capitalismo.
O que parece necessário, entretanto, é desdobrar esta relação de forma um pouco mais complexa.
Hegel nos aponta que o saber em geral está ligado a uma relação específica entre o Eu e um objeto determinado, relação esta chamada por ele de consciência. E é Creston Davis quem afirma que, para Hegel, antes de tudo existe a relação. Mas como devemos ler esta afirmação de Davis? A resposta parece ser a mais óbvia: de forma literal!
Ou seja, antes de tudo, aqui significa antes de tudo mesmo, antes inclusive do próprio Eu e do próprio objeto.
Hegel afirma que a consciência (relação Eu-objeto) se manifesta de várias formas conforme são as variações do objeto e do sujeito que se debruça sobre ele. Por isso, afirma também que o saber em geral (ao menos em sua época) se preocupava apenas com o objeto sem levar em conta o próprio saber e a própria subjetividade: "Ora, tudo o que é dado no saber não se reduz ao objeto: contém também o Eu que sabe, e a relação recíproca entre o Eu e o objeto: a consciência".
Daí, Hegel derivará - como era de se esperar - 3 momentos da manifestação da consciência: em primeiro lugar, a relação simples entre o Eu e um objeto exterior, a consciência em geral; em segundo lugar a relação entre Eu e Eu, a consciência de si simples; e finalmente a consciência de uma realidade objetiva que, entretanto, pertence ao próprio Eu: o pensamento.
Em ttermos gráficos, o que temos é uma relação: a) Eu - objeto; b) Eu - Eu; c) Eu - (Eu - Eu). Esta última é a consciência de si para uma consciência de si.
O fundamental aqui é perceber que, da impossibilidade de um sujeito conhecer objetivamente uma realidade exterior, passa-se para o saber sobre sua própria subjetividade. Este processo, entretatno, não é suficiente e é igualmente impossível. Tudo, até agora, é mediado pelo entendimento. E o conhecer sobre a subjetividade e sobre o Eu, torna este Eu e esta subjetividade um objeto igualmente impossível de ser conhecido. O raciocínio aqui é a incompassibilidade entre os dois Eu's da relação Eu - Eu. O primeiro Eu é o ser que conhece e o segundo Eu é um mero objeto.
O terceiro passo, ou a síntese, é a passagem para o saber sobre esta própria relação: como eu posso me debruçar sobre um objeto, como surge a consciência, de que maneira ela é mediada. No gráfico "Eu - (Eu - Eu)", vemos a consciência de si colocada como objeto, ou seja, o objeto é tanto o Eu que conhece quanto o objeto, nas palavras de Hegel. É isto que permite a emergência do espírito como um mero Eu = Eu desprovido de conteúdo: em outras palavras, uma vez que o objeto é sempre outra coisa, porque sua aparência é enganadora, por ser mediada pelo entendimento, esta "consciência de si para uma consciência de si" é o que permite à consciência se identificar diretamente com esta outra coisa, uma vez que seu objeto já é a relação entre Eu e Eu, as duas formas assimétricas do Eu (o Eu que conhece e o Eu objeto) de forma que esta relação surja imediada.
A saída pós-moderna, mais uma vez, parece ser o mais fácil: "já que não podemos conhecer nada de forma objetiva, devemos nos voltar para nossa relação com nosso 'Eu interior'".
Em termos políticos: "já que não podemos saber a verdade sobre o capitalismo e a Democracia, já que não podemos saber qual a alternativa perfeita ao capitalismo e à Democracia, a saída é conhecer nossas necessidades interiores ou "locais" , dentro de cada um dos múltiplos movimentos em que se fragmentou a esquerda".
Aqui a afirmativa hegeliana de que o saber se preocupa com a relação entre o Eu e o objeto é historicamente equivocada: hoje, o saber se volta cada vez mais para a relação entre o Eu e o Eu (interior).
A pergunta que fica no ar é: esta relação é objetiva/não mediada?
A única saída, portanto, parece ser a síntese dos movimentos para a pergunta: de que forma experimentamos tanto o mundo exterior quanto a minha própria subjetividade/identidade como realidades imediatas?
Afinal, se a questão da subjetividade emerge da "percepção" de que o objetivo não é acessível, também outro momento deve surgir desta impossibilidade de acesso ao subjetivo: donde o questionamento e a conseqüente superação da mediação que me permite experimentar minha identidade como algo natural ou imediato.
Caso contrário estamos somente reproduzindo o Entendimento Político Democrata e abrindo portas ao desenvolvimento irrestrito do capitalismo.
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