A coincidêcia dos opostos, em Hegel, decorre do fato de que tudo procede da Razão. Ou antes, o que é bem diferente, que não há nada que não proceda da razão. Logo, uma idéia negada por uma particularidade, por exemplo a propriedade negada pelo roubo, não pode supor que o rouobo é o irracional que nega o racional "propriedade". Se ambos devem proceder da Razão, logo ambos estão subordinados a ela e coonstituem apenas um momento particular da Razão que é histórica, historicamente construída. Assim, ambos são capiturados num só momento: a famosa frase proudhoniana em seu insight hegeliano, "a propriedade é um roubo", ou seja, o roubo, como antítese da propriedade constitui sua própria verdade, a verdade da propriedade é que ela é sua antítese, o roubo.
Por isso é que, para Zizek, a síntese é a antítese no sentido de que, na síntese, percebe-se que a antítese é a verdade da tese e que esta última, a Tese, não é A Razão, mas apenas um momento do desenvolvimento dela (o que em si já joga pra escanteio o argumento de que Hegel seria um Metafísico ou um Idealista insandecido que pensava que a Verdade ou a Razão fosse algo transcendental perfeitamente acabado: Não! A Razão é construída na passagem de uma concepção de Razão para outra concepção de Razão).
Por isso é que a Razão é construída pelo Espírito.
Se algo é não-todo em Hegel, esse algo é a própria Razão, o que por definição, portanto, não pode ser totalitária pois, se algo é irracional numa concepção determinada de Razão, isto significa que é esta concepção em si que não é racional. Isto é precisamente o que aproxima a Razão em Hegel do Aion deleuziano: o ponto aleatório em que todas as singularidades determinadas formam uma "totalidade" ou, colocando em termos mais claros e precisos: é precisamente isto que o Aion não é, um todo, mas sim um não-todo no sentido lacaniano, daquilo que não exclui sua exceção, mas que comporta precisamente sua exceção como a surpresa que permite a abertura eterna do sistema para se desenvolver historicamente sempre como um vir-a-ser ou devenir.
Fica claro, portanto, que a razão em Hegel é não-todam se constrói a si mesma, como razão, através da atuação do Espírito.
Se o entendimento é o que nega a razão, a possibilidade, portanto, de simbolizar o Real lacaniano (que é nada mais nada menos do que a natureza em termos hegelianos) e esta possibilidade, diga-se, é a própria Razão Absoluta, como devenir, ser e nada. O que é todo em Hegel?
Se, nas palavras do próprio Hegel, o Entendimento é o poder de fixação que liga o homem ao absoluto e que fixa justamente as oposições como coisas absolutamente independentes, este é o Todo em Hegel, o masculino em Lacan, como algo que se fixa só e somente só pela exclusão daquilo que lhe nega, pela exclusão de sua exceção.
O Entendimento hegeliano, não pode ser aproximado, desta forma, da cadeia S1-S2 em Lacan?
Neste sentido, é claro que o Entendimento pode se desenvolver ao infinito, como inclusão de novos significantes S2 que se articulam somente em relação à inscrição prévia do S1, do significante-mestre. Mas o ato da Razão como "abertura do conceito" que recolhe em si o antagonismo, não é a troca do próprio S1, na medida em que seu antagonismo lhe é inerente, o próprio antagonismo que existe entre o S1 e o lugar de sua inscrição?
Mas o que queremos dizer exatamente com esta noção de troca? O processo de "travessia da fantasia" é aquele em que, identificando-se com o sintoma, o sujeito pode encarar o S1, o nome do pai que lhe constitui como sujeito, como produto de sua própria "escolha" (com a ressalva a ser feita de que as aspas nesta expressão dizem respeito ao cuidado de não entender escolha como simples livre arbítrio.)
A troca se dá, portanto, não quando se consegue inserir novos significantes S2 na cadeia (a mudança não é quantitativa), mas quando se consegue articular diretamente o não-senso do S1.
E este não-senso é o Aion e, portanto, a Razão. Neste sentido, no plano político, não se trata de inserir novos institutos para o desenvolvimento da democracia (o significante-mestre do Entendimento político contemporâneo, mas articular seu próprio não-senso, trazer para ela sua própria negação: igualdade é desigualdade; tolerância é intolerância; propriedade é roubo e, finalmente Democracia é Ditadura e Totalitarismo).
Desenvolver a Democracia e seus institutos é negar a Razão e a ética, tanto hegeliana quanto estóica, que está ligada ao aparecimento do não-senso do Aion.
Se a dialética comporta o momento negativo, o de desaparecimento da fixação imposta pelo entendimento e um momento positivo em que a Razão aparece como sua forma aiôntica de eterno devir, esta positivação é necessariamente a negação da Democracia (e do capitalismo que, lembramos, também pode se desenvolver ao infinito) cuja única forma posta até agora foi o Socialismo como negação da negação do capitalismo e o Comunismo como abertura não-toda da Razão política-social. (E a única forma porque, até agora, todas as alternativas de terceira via a la Anthony Giddens se mostraram ser somente uma forma colorida de capitalismo e Democracia).
Por isso é que, para Zizek, a síntese é a antítese no sentido de que, na síntese, percebe-se que a antítese é a verdade da tese e que esta última, a Tese, não é A Razão, mas apenas um momento do desenvolvimento dela (o que em si já joga pra escanteio o argumento de que Hegel seria um Metafísico ou um Idealista insandecido que pensava que a Verdade ou a Razão fosse algo transcendental perfeitamente acabado: Não! A Razão é construída na passagem de uma concepção de Razão para outra concepção de Razão).
Por isso é que a Razão é construída pelo Espírito.
Se algo é não-todo em Hegel, esse algo é a própria Razão, o que por definição, portanto, não pode ser totalitária pois, se algo é irracional numa concepção determinada de Razão, isto significa que é esta concepção em si que não é racional. Isto é precisamente o que aproxima a Razão em Hegel do Aion deleuziano: o ponto aleatório em que todas as singularidades determinadas formam uma "totalidade" ou, colocando em termos mais claros e precisos: é precisamente isto que o Aion não é, um todo, mas sim um não-todo no sentido lacaniano, daquilo que não exclui sua exceção, mas que comporta precisamente sua exceção como a surpresa que permite a abertura eterna do sistema para se desenvolver historicamente sempre como um vir-a-ser ou devenir.
Fica claro, portanto, que a razão em Hegel é não-todam se constrói a si mesma, como razão, através da atuação do Espírito.
Se o entendimento é o que nega a razão, a possibilidade, portanto, de simbolizar o Real lacaniano (que é nada mais nada menos do que a natureza em termos hegelianos) e esta possibilidade, diga-se, é a própria Razão Absoluta, como devenir, ser e nada. O que é todo em Hegel?
Se, nas palavras do próprio Hegel, o Entendimento é o poder de fixação que liga o homem ao absoluto e que fixa justamente as oposições como coisas absolutamente independentes, este é o Todo em Hegel, o masculino em Lacan, como algo que se fixa só e somente só pela exclusão daquilo que lhe nega, pela exclusão de sua exceção.
O Entendimento hegeliano, não pode ser aproximado, desta forma, da cadeia S1-S2 em Lacan?
Neste sentido, é claro que o Entendimento pode se desenvolver ao infinito, como inclusão de novos significantes S2 que se articulam somente em relação à inscrição prévia do S1, do significante-mestre. Mas o ato da Razão como "abertura do conceito" que recolhe em si o antagonismo, não é a troca do próprio S1, na medida em que seu antagonismo lhe é inerente, o próprio antagonismo que existe entre o S1 e o lugar de sua inscrição?
Mas o que queremos dizer exatamente com esta noção de troca? O processo de "travessia da fantasia" é aquele em que, identificando-se com o sintoma, o sujeito pode encarar o S1, o nome do pai que lhe constitui como sujeito, como produto de sua própria "escolha" (com a ressalva a ser feita de que as aspas nesta expressão dizem respeito ao cuidado de não entender escolha como simples livre arbítrio.)
A troca se dá, portanto, não quando se consegue inserir novos significantes S2 na cadeia (a mudança não é quantitativa), mas quando se consegue articular diretamente o não-senso do S1.
E este não-senso é o Aion e, portanto, a Razão. Neste sentido, no plano político, não se trata de inserir novos institutos para o desenvolvimento da democracia (o significante-mestre do Entendimento político contemporâneo, mas articular seu próprio não-senso, trazer para ela sua própria negação: igualdade é desigualdade; tolerância é intolerância; propriedade é roubo e, finalmente Democracia é Ditadura e Totalitarismo).
Desenvolver a Democracia e seus institutos é negar a Razão e a ética, tanto hegeliana quanto estóica, que está ligada ao aparecimento do não-senso do Aion.
Se a dialética comporta o momento negativo, o de desaparecimento da fixação imposta pelo entendimento e um momento positivo em que a Razão aparece como sua forma aiôntica de eterno devir, esta positivação é necessariamente a negação da Democracia (e do capitalismo que, lembramos, também pode se desenvolver ao infinito) cuja única forma posta até agora foi o Socialismo como negação da negação do capitalismo e o Comunismo como abertura não-toda da Razão política-social. (E a única forma porque, até agora, todas as alternativas de terceira via a la Anthony Giddens se mostraram ser somente uma forma colorida de capitalismo e Democracia).
2 comentários:
Se a democracia é a contra-Razão, o entendimento que fixa oposiçôes, não é a toa que estamos presenciando o que, no linguagar marxista, poderíamos chamar de auto-destruição da Razão pela diversidade da burguesia pós-moderna hoje.
Com certeza. Me parece que todo o blá blá blá sobre como a diferença entre esquerda e Direita desapareceu só tem uma coisa de verdade: A esquerda é que passou a se encarar como Entendimento, não como Abertura histórica e Razão, como aliás sempre foi!
Isso ocasiona mesmo um "desaparecimento" da diferença entre esquerda e direita, pelo simples fato de a esquerda não ter a menor idéia de quem ela é e de ter esquecido por completo a função que cumpriu ao longo de toda a história da modernidade.
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